Revista – Reposição de peças usadas e seminovas não para de crescer
O setor de transporte rodoviário de cargas foi um dos mais afetados com a desaceleração da economia. Neste ano, o setor de venda de novos continua em queda. De acordo com dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), somente em janeiro de 2016, o comércio de carros, caminhões e ônibus registrou queda de 38,81%,
No ano passado, segundo a entidade, as vendas de carros, caminhões e ônibus novos caíram 26,55% em 2015 em relação a 2014. Foram emplacados 2.569.014 veículos 0 km. Foi o terceiro ano seguido de baixa, porém, desta vez muito mais acirrada do que nos períodos anteriores.
Entretanto, existem alguns segmentos que, na contramão da crise, registram resultados surpreendentes. Um deles é o mercado de reposição de peças usadas e seminovas, que vem ganhando uma nova dinâmica, impulsionado, principalmente, por uma mudança comportamento do consumidor.
Em épocas de crise, em vez de comprar um caminhão novo, os consumidores estão optando por usados. Além disso, cuidam muito mais da manutenção do veículo, utilizando, em grande parte das vezes, peças usadas e seminovas. Para se ter ideia, uma peça seminova e usada em ótimo estado pode custar até 50% menos quando comparado a um item novo.
Esse novo cenário tem feito com que o setor registre crescimento vertiginoso. Segundo um estudo feito pela consultoria alemã Roland Berger, o mercado automotivo de reposição movimentou somente em 2015 R$ 25 bilhões no Brasil. A previsão é que o setor alcance mais de R$ 30 bilhões até 2020. Já o crescimento anual da categoria deve ficar em 4,6% também para os próximos quatro anos, incluindo peças genuínas, originais, alternativas e usadas, para veículos leves e pesados.
Além disso, segunda a consultoria, o valor gasto pelo consumidor na reposição deverá atingir R$ 142 bilhões em 2020, com taxa média de crescimento de 5,4% ao ano. Somente no ano passado, o valor gasto pelo consumidor ficou em R$ 115 bilhões.
Ao contrário do que ocorria anos atrás, em que a utilização de peças usadas e seminovas no conserto de veículos carregava o estigma da procedência duvidosa ou de produto sem qualidade, hoje, após a regulamentação da Lei do Desmonte, a percepção do consumidor vem mudando. É que as peças são etiquetadas com um selo do Detran, e todas possuem um QR Code, que permite ao consumidor consultar a origem e legalidade do material. Hoje, a maioria dos itens é fruto de veículos comprados em leilões de bancos e seguradoras.
Lei pioneira
Pioneira no País, a Lei do Desmonte entrou em vigor em julho de 2014, como objetivo inibir o furto e o roubo de veículos, assegurando que empresas idôneas continuem no setor de desmanche e revenda de peças usadas e garantindo a legalidade do produto que chegará ao consumidor final. A medida prevê o credenciamento e registro dos estabelecimentos no Dentran. Após um ano de vigência, o Estado de São Paulo, por exemplo, já registrava redução de 25% no total de roubos de carros.
O sistema online de controle de peças foi lançado no Detran.SP em outubro de 2015. O programa dá acesso ao cidadão, que passa a poder consultar em celulares ou tablets, por meio de QR Code, a procedência do produto.
A pesquisa exibe o tipo, a marca, o modelo e o ano do veículo, além de identificar qual a empresa foi desmontadora e comercializadora da peça. Quando existem registros fotográficos do veículo, as imagens ficarão disponíveis para visualização.
Mais crescimento
Em 2016, alguns fatores devem continuar contribuindo para crescimento do setor de peças seminovas e usadas. “Trata-se de um mercado com franco poder de crescimento nos próximos anos em função da consolidação de um ambiente que exige empresas mais organizadas e profissionalizadas. Os desmanches de veículos que estão no segmento já perceberam as grandes oportunidades que vêm surgindo e estão procurando se adequar à lei”, comenta Arthur Rufino, Vice-Presidente de Inovação e Planejamento da JR Diesel, empresa de desmonte de veículos do Brasil e América Latina, que registrou, somente no ano passado, faturamento superior a R$ 50 milhões.
Segundo do executivo, um fator que irá contribuir para maior expansão do comércio de peças seminovas e usadas é a implementação do seguro popular, que deve estar disponível ainda neste ano.
De acordo com Rufino, trata-se de uma nova modalidade de seguro que não faz concorrência à modalidade convencional, permitindo a utilização de peças usadas no conserto e beneficiando motoristas que circulam com seus veículos sem proteção.
“Esse tipo de apólice vai atender proprietários com veículos com mais de cinco anos de uso, com riscos altos de roubo e furto e que, em geral, não são cobertos pelas seguradoras. A proposta é baratear o preço das apólices e atrair mais segurados. Para se ter ideia, estimativas do setor indicam que somente 29% da frota brasileira é coberta por seguros. Em relação a caminhões, esse percentual cai para 6%”, revela.
Com a permissão para uso de peças usadas e seminovas, o executivo acredita que as empresas que atuam nesse mercado terão aumento de demanda e precisam estar preparadas para atender um público diferente.
“Antes, os desmontes estavam acostumados a lidar com os clientes no balcão numa relação muito íntima e mais informal. Mas agora, terão de conversar com seguradoras, montadoras, indústrias de autopeças, o que exigirá uma nova postura e um novo aprendizado”, avalia.
Países vizinhos ao Brasil já possuem lei semelhante com resultados positivos. Na Argentina, segundo a CNseg (semelhante à Susep), o índice de furto e roubo diminuiu 50%, trazendo reflexos positivos para a sinistralidade e, consequentemente, para o preço do seguro de automóvel no país.
Cuidados na aquisição
Segundo Rufino, apesar da evolução da lei, é sempre importante tomar alguns cuidados na hora de adquirir uma peça usada. A primeira dica é sempre consultar a procedência do item no site do Detran. Outra recomendação é exigir nota fiscal na aquisição, o que também é uma garantia no momento da rastreabilidade.
Por fim, comprar em locais que já possuem reputação e são reconhecidos pela preocupação com a qualidade das peças é uma atitude bem-vinda.
Por: Redação Na Boléia