5-1-20072018-minAproveitando a passagem do Dia de São Cristóvão/Dia do Caminhoneiro, celebrado em 25 de julho, queremos mais uma vez parabenizar a categoria pela coragem e pelo movimento pacífico, que se não gerou ainda as mudanças necessárias, despertou em cada brasileiro a consciência de que podemos e devemos brigar por um país mais justo para todos.

Mesmo que toda a população já soubesse, pelo menos em discurso, que os caminhoneiros exercem uma atividade fundamental para o País, a recente paralisação da categoria, que aconteceu em final de maio, mostrou, de uma forma nunca vista antes, a verdadeira importância do trabalho realizado pelos motoristas profissionais.

Deixando de lado as consequências positivas e negativas desse movimento, o fato é que os caminhoneiros mostraram força, união e, mais do que isso, coragem para bater de frente com o Governo e exigir mudanças.

Nesse episódio, a presença da tecnologia e de dispositivos móveis foi uma grande aliada, facilitando a comunicação da greve e sendo crucial para que o movimento alcançasse proporções realmente surpreendentes.

Greves de caminhoneiros são comuns em diversos países, como França, Chile e Estados Unidos, e chamam atenção dos Governos, justamente por serem movimentos que ameaçam a cadeia de distribuição dessas nações.

Uma das mais emblemáticas, registradas na história, aconteceu em um de nossos vizinhos, o Chile. Em 1972, a greve de caminhoneiros durou 26 dias e acabou agravando a crise econômica pela qual o país passava, incitando diversos outros movimentos grevistas, o que culminou no golpe de Estado, que retirou do poder o então presidente Salvador Allende.

À época, os caminhoneiros, que paralisaram o país pela primeira vez, protestavam contra a criação de uma autoridade nacional de transporte e provocaram uma crise trabalhista de grandes proporções. Segundo números do governo chileno, aquela paralisação inicial custou US$ 200 milhões ao país – o equivalente hoje a mais de US$ 1,2 bilhão. O governo de Allende até tentou reverter a situação, recebendo os motoristas, mas já era tarde.

Da mesma forma, nos Estados Unidos, em 1934, aconteceu a “Teamsters’ Strike”, que pode ter sido a primeira grande greve de caminhoneiros da história daquele país. À época, os sindicatos estavam ganhando força na luta por aumentos de salários e melhores condições para os trabalhadores.

Mas os empregadores se recusavam a reconhecer o sindicato organizado por três mil motoristas de caminhões. Eles então entraram em greve.

Para informar a população sobre os acontecimentos, os líderes da paralisação publicavam em um jornal diário. Centenas de grevistas foram presos, e houve embates violentos por dois dias. Mas, ao final, o sindicato foi reconhecido e suas reivindicações atendidas.

Status de heróis

No Brasil, o motivo da paralisação foi o descontentamento da categoria com a atual política de preços da Petrobras, com reajustes quase que diários nos valores dos combustíveis, acompanhando a cotação internacional do barril de petróleo, o que desagrada não só os motoristas, mas boa parcela dos brasileiros.

Por aqui, onde mais de 70% das riquezas são transportadas pelo modal rodoviário, também já houve paralisações importantes, mas nada parecido com a deflagrada em maio último.

No contraponto da relevância do modal rodoviário no Brasil, está o caminhoneiro, uma categoria que carrega o País nas costas, mas que nunca teve o merecido reconhecimento. Condições ruins de trabalho, baixa remuneração, jornadas excessivas, viagens exaustivas e sem segurança ao longo de estradas em péssimas condições, formam até hoje o universo desses profissionais, que vêm utilizando as paralisações para exigir mais dignidade no exercício da profissão.

Vale lembrar que a promulgação da própria Lei nº 13.103, de 2 de março de 2015, conhecida como a Lei do Motorista, que regulamentou a profissão e contempla desde jornada de trabalho, período de descanso, entre outros temas, foi resultado da pressão originada da greve geral dos caminhoneiros autônomos, realizada em fevereiro de 2015.

Na verdade, os caminhoneiros, mais do que ninguém, sabem da importância de seu trabalho. Mas, desta vez, a greve ganhou um apelo bem mais nobre: mostrou a população que a categoria, quando bem mobilizada, consegue chamar atenção da esfera maior.

Simpatia popular

Se antes formavam uma classe pouco valorizada, hoje os caminhoneiros ganharam novo patamar e conquistaram, definitivamente, a simpatia da população, que apoiou a greve, mesmo sofrendo com o desabastecimento de produtos em vários setores.

Na verdade, o movimento e seus desdobramentos elevaram a categoria, antes desprestigiada, ao status de “heróis”. Afinal de contas, uma única classe, sozinha, conseguiu parar a nação e fazer o Governo abrir concessões. Embora saibamos que o movimento não trará as transformações necessárias para colocar o País novamente na rota do crescimento e acabar com problemas, que há anos atrapalham nosso desenvolvimento, como a corrupção, a alta carga de impostos, a impunidade, a burocratização em vários setores etc., a greve serviu para mostrar ao Governo que a população está alerta e não aguenta mais pagar a conta alta da ineficiência do poder público.

Durante o período de paralisação, nas redes sociais a hashtag #EuApoioAGreveDosCaminhoneiros ficou em primeiro lugar dos trending topics.

O fato é que muitas pessoas se viram representadas por uma categoria que abraçou seu direito, legítimo – vale ressaltar –, de se manifestar.

Um levantamento feito nas redes sociais, na semana da greve, pela empresa Torabit, apontou que mais da metade das menções sobre a paralisação dos caminhoneiros era positiva.

Outras categorias, como motoboys, motoristas de aplicativos e donos de vans, também descontentes com os preços dos combustíveis, manifestaram apoio à mobilização dos caminhoneiros. Em São Paulo, houve mobilização de motoboys na Avenida Paulista e também na Marginal do Pinheiros.

Semente plantada

Por outro lado, sabemos que paralisações desse tipo também atraem a atenção de pessoas e lideranças ligadas a movimentos políticos, que veem nesse tipo de mobilização uma oportunidade de provocar o caos no País.

Mas não há como negar que a última greve dos caminhoneiros foi um movimento bem orquestrado e legítimo, que, com certeza, trará à tona discussões importantes, contribuindo para que os brasileiros percebam o poder que têm nas mãos, e comecem a atuar, com protagonismo, para tornar o Brasil uma nação que todos se orgulhem de viver.

Aproveitando a passagem do Dia de São Cristóvão/Dia do Caminhoneiro, celebrado em 25 de julho, queremos mais uma vez parabenizar a categoria pela coragem e pelo movimento pacífico, que se não gerou ainda as mudanças necessárias, despertou em cada pessoa um sentimento que estava meio adormecido nos últimos anos: nós podemos e devemos brigar por um país mais justo para todos.

Dizem que o brasileiro tem memória curta, mas esperamos, sinceramente, que o exemplo dos caminhoneiros, os verdadeiros heróis desse País, tenha plantado suas sementes e seja somente o início de um novo tempo para todos nós, brasileiros.

Por Emerson Castro – Redação Na Boléia

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