Revista: Revolução digital e trabalho
Na edição passada da Revista Estrada Na Boléia, abordamos as novas tecnologias em pneus nos chamados “pneus inteligentes”. Todas muito interessantes, algumas ainda são protótipos em fase de desenvolvimento. Outras, não passaram de promessas.
Muito bem. Ainda no tópico da tecnologia, na última semana de novembro, participei de um seminário com um título longo: “Impactos da Revolução Digital e Cognitiva na Inserção Internacional dos Países Emergentes, no Mundo do Trabalho, na Democracia e nas Instituições”. Entre os participantes e painelistas, estavam representantes do Banco Mundial, Ministério do Planejamento, Fundação FHC, Instituto República, da Natura, um ex-presidente da Petrobras, professores da USP, o Consul Geral da França em São Paulo, diplomatas da Bélgica, Luxemburgo, Portugal e União Europeia.
O foco foi centrado no impacto que as tecnologias digitais estão trazendo para as nossas vidas e o que ainda está por vir, tanto pelo aspecto do trabalho quanto pelo social e político. Afinal de contas estamos no Brasil, onde a política interfere fortemente no campo econômico, social e trabalhista.
Muito comum é a preocupação com a redução de postos de trabalho com o avanço das tecnologias, porém, isso afeta, principalmente, as tarefas burocráticas, administrativas e repetitivas. O uso da robotização em atividades produtivas também é outro aspecto a ser observado.
Nos transportes, a tecnologia digital está presente, por exemplo, na crescente e cada vez maior participação e dependência da eletrônica embarcada. Mas não apenas nos veículos, nos processos e sistemas auxiliares.
Quem utilizava o GPS para achar endereços e traçar rotas, e hoje faz uso do Waze com a mesma finalidade, pode constatar com facilidade o tanto que evoluiu, já que, além de traçar rotas e informar distâncias, ainda prevê a hora de chegada – que vai sendo reajustada para mais ou para menos à medida que ocorrem alterações no trânsito ao longo do caminho traçado – além de permitir a interação entre usuários e sistema em tempo real, que informa a existência de buracos, veículos parados na via etc.
Voltando aos veículos, os avanços tecnológicos são incorporados aos caminhões com maior rapidez que nos modelos leves. Em matéria publicada recentemente na Automotive Business, a justificativa é que o consumidor de veículos comerciais costuma fazer contas e decide pela compra ao constatar a economia obtida com determinada tecnologia e em quanto tempo irá recuperar o investimento. Automóveis são comprados pelo público em geral por outros critérios.
Embora seja válido o argumento, tenho uma teoria um pouco diferente: quanto custa determinada tecnologia quando comparada ao valor do veículo? Digamos que um detector de ponto cego custe R$ 3 mil. Quanto isso representa em porcentagem sobre o total a ser pago?
Vamos considerar um automóvel de preço médio, algo como R$60.000. Um opcional de R$ 2 mil equivale a 5%. Mas em um caminhão de R$ 250 mil, supondo-se que o opcional seja o mesmo valor seria o equivalente a 1,2%. E num cavalo mecânico então, é irrisório. De maneira análoga, é pela mesma razão que novas tecnologias aparecem antes em carros de luxo, para depois migrarem para veículos de menor valor. Exemplos não faltam: câmbio automático, direção assistida e ar-condicionado são os mais significativos. Se antigamente só estavam disponíveis em automóveis importados ou de maior valor, hoje equipam os chamados veículos de entrada ou “populares”.
Outro aspecto das novas tecnologias a ser considerado, este, sim, relacionado com o trabalho propriamente dito, está nos aplicativos como o Uber, porém, específicos para o transporte de cargas e mercadorias, e o desenvolvimento de veículos autônomos.
Do primeiro, destaque para um brasileiro de nome Murilo Amaral, mineiro que criou na Flórida a Cargo42 (www.cargo42.com) e acaba de receber as chaves da cidade de Miami e do condado de Miami-Dade como prêmio de reconhecimento pela iniciativa, que proporciona economia de 20% a 30% no frete ao compartilhar espaços vagos nos caminhões de entrega entre vários agentes, tanto embarcadores quanto transportadores.
O segundo ponto, dos veículos autônomos, recebeu grande impulso recente quando a Tesla, fabricante de superesportivos de propulsão elétrica, divulgou que entrará no mercado de transportes com um caminhão também elétrico, capaz de transportar até 36 toneladas a 800 km de distância com uma carga de bateria.
De acordo com Elon Musk, fundador da empresa, o custo do frete poderá até ser inferior ao do transporte ferroviário, podendo ter direção autônoma.
É esperar para ver o que o futuro irá nos trazer.
Por: Percio Schneider
Redação Na Boléia