2-22122016O ano está terminando e a pergunta que fica é: depois de tanta dificuldade, o que esperar de 2017? Para algumas entidades do setor, a perspectiva é de retomada do ritmo econômico, mesmo que lentamente e com bases baixas

A percepção de que 2016 foi um ano bastante desafiador é unânime em praticamente todos os setores da economia. No transporte rodoviário de cargas, a crise foi avassaladora. Falta de serviços, demissões, frota parada, custos altos, entre outras, foram apenas algumas das dificuldades do segmento, que está entre um dos mais afetados com a desaceleração econômica que o País vive desde 2014.

O ano está terminando e a pergunta que fica é: depois de tanta dificuldade, o que esperar de 2017? Na verdade, a crise não irá embora da noite para o dia, mas como diz a máxima popular “quando se chega ao fundo do poço, o que resta é subir”. As principais pesquisas apontam para uma retomada da economia no próximo ano, entretanto, deverá ser algo lento e bastante tímido. Mas isso não deixa de ser uma boa notícia.

Por outro lado, a equipe econômica do Governo do presidente Michel Temer reduziu a projeção de crescimento do PIB e trabalha com uma alta da ordem de 1%, o que é insignificante ante as perdas que o País vem acumulando nos últimos meses.

O fantasma da volta da inflação também preocupa os empresários, especialmente, do setor de transporte rodoviário de cargas, que são significativamente pressionados por custos. A projeção pode ficar ainda mais negativa depois da vitória de Donald Trump. Segundo assessores presidenciais, o governo do republicano é uma incógnita e pode gerar turbulências nos mercados mundiais, afetando o ritmo da economia no Brasil.

Mas o discurso positivo está presente em declarações de vários executivos e entidades do setor. No recente encontro “As rumos dos negócios para 2017, promovido pela Anfir – Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários, durante o Salão do Automóvel, em novembro, algumas entidades apresentaram sua visão para 2017 e todas se mostram otimistas para o próximo ano.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea é uma das que mantiveram o tom positivo. Apesar de os últimos números divulgados pela entidade, especialmente no que tange a caminhões, ainda confirmarem uma retração, a associação acredita numa retomada.

Os números de outubro indicam queda de 17,9% nos licenciamentos de caminhões. Foram licenciados 3,4 mil veículos, contra as 4,2 mil de setembro. Na análise com outubro do ano passado, as vendas diminuíram 40,4% – foram 5,8 mil unidades naquele mês. Até o décimo mês do ano, a comercialização estava menor em 31% ao defrontar as 42,3 mil unidades deste ano com as 61,3 mil do ano passado.

Na produção, o volume fabricado em outubro foi de 4,6 mil unidades, recuo de 4,4% se comparado com as 4,8 mil de setembro e de 31,8% contra as 6,8 mil unidades do mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, a queda é de 22,9%: foram 51 mil unidades em 2016 e 66,1 mil no ano passado. As exportações de caminhões encerraram outubro com baixa de 34% ao se comparar as 1,6 mil unidades com as 2,5 mil de setembro. Na análise contra as 2,1 mil unidades de outubro do ano passado, a diminuição foi de 20,5%. Nos dez meses transcorridos do ano, as fabricantes exportaram 3,1% a menos do que 2015: foram 16,9 mil unidades este ano e 17, 5 mil em 2015.

“No segmento de caminhões, existe uma capacidade ociosa de mais de 75%, o que é algo dramático, mas o empresariado e o consumidor já demonstram mais confiança em uma melhora do País. Isso é importante para os negócios, pois a partir do momento que o cliente começa a se mostrar mais otimista, ele tende a rever seus investimentos e a economia pode começar a girar novamente”, comentou Antonio Megale, presidente da Anfavea.

2-1-22122016Inversão da curva

A entidade prevê que haverá crescimento “de um dígito parrudo” acima de 5% em 2017. Contudo, as bases ainda serão muito baixas. “Mesmo com a projeção do Governo de crescimento do PIB de apenas 1%, a boa notícia é a inversão da curva de queda. Uma pesquisa rea-
lizada pela entidade, que visa apurar o nível de confiança do consumidor, mostrou que o medo de perder o emprego, que era de 56% na último levantamento, caiu para 46% na edição recente entre os entrevistados, o que é um indicador positivo. À medida que o Governo conseguir controlar a queda da inflação e os gastos públicos, esses indicadores irão melhorar ainda mais”, destaca Megale.

De acordo com o executivo, nesse momento de dificuldade, a visão de todas as entidades do setor converge para a necessidade de se buscar saídas no sentindo de amenizar os efeitos da crise.

Umas delas seria identificar novas alternativas para financiamentos. “Sabemos que o setor é bastante dependente do Finame, mas podemos buscar outras possibilidades que possam oferecer também taxas de juros mais atrativas”, acrescenta.

O presidente da Anfavea ainda defendeu a criação de um novo programa de inspeção veicular, que, por sinal, é também uma bandeira levantada por várias entidades, porém, com mais critério e padronização. O objetivo seria remover das ruas os veículos que estão poluindo sem condições de rodar e envolvidos em acidentes, cujos proprietários receberiam uma bonificação na compra de um veículo mais novo.

“Isso traria vários benefícios, como redução de poluentes, geração de empregos, mais segurança e mobilidade nas vias, fomento à indústria de reciclagem etc.”, ressalta.

A visão da distribuição

O presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores – Fenabrave, Alarico Assumpção Jr., que também esteve presente no encontro da Anfir, compartilhou da visão otimista da Anfavea. Conforme o executivo, no que se refere a caminhões, ainda há uma expressiva queda nas vendas.

Segundo dados da entidade, referentes ao mês de outubro último, a venda de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus caiu 17,22% . Foram emplacadas 159.049 unidades, contra 192.133 unidades no mesmo período de 2015.

No acumulado do ano, a queda é ainda maior, de 22,28%. Nos primeiros 10 meses de 2016, foram comercializadas 1,66 milhão de unidades, contra 2,14 milhões em 2015.

Na comparação com setembro, quando foram vendidas 159.957 unidades, houve uma ligeira queda, de 0,57%.

A queda geral é puxada pela baixa nas vendas de automóveis e comerciais, responsáveis por boa parte da frota brasileira. Em outubro foram 154.875 unidades, 100 a menos do que em setembro, e bem abaixo das 185.258 de outubro de 2015.
Entre caminhões e ônibus, a queda é ainda maior. Foram emplacadas 4.174 unidades, 16,22% a menos do que em setembro (4.982 unidades) e 39,29% a menos do que em outubro de 2015.

“Em 2017, se acontecerem as aprovações de programas importantes por parte do Governo, como, por exemplo, o de renovação de frotas, bem como se houver uma mudança na visão do empresário, que terá mais confiança para investir, e tivermos uma política de crédito mais justa, nossa participação no PIB poderá chegar até a 2%”, cometa Alarico.

No encontro, o presidente revelou que de janeiro de 2015 a junho de 2016 foram fechadas mais de 1.700 empresas distribuidoras de veículos. O setor também foi um dos que mais demitiram: cerca de 124 mil trabalhadores foram dispensados pelo segmento, sendo que a previsão é que esse número chegue até 150 mil até o final de 2016.

“A Fenabrave acredita na retomada, mesmo com bases baixas. Todos sentimos os efeitos dessa crise, que foi devastadora. Mas vamos trabalhar para superar nossas expectativas em 2017. Ou seja, temos de pensar que a união dos esforços é importante. Não podemos só esperar pelo que o Governo tem a nos oferecer. O momento é também de auxiliarmos a equipe econômica e descobrir o que podemos fazer para ajudar o Governo. O momento é de convergência. E isso significa união e foco para mantermos a sustentabilidade de nossos negócios e do País”, declara Alarico.

Dificuldades do TRC

Representando o presidente da NTC&Logística – Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística, José Helio Fernandes, esteve presente no encontro o diretor executivo Dimas Barbosa Araújo. Ele apresentou um panorama da atividade de transporte de cargas depois da crise econômica.

O executivo revelou dados de uma pesquisa realizada no primeiro semestre deste ano pela entidade, que mostrou que 65,4% das empresas entrevistadas tinham caminhões parados. E dessas, 11,25 tinham a frota totalmente parada. Além disso, 81% das empresas ouvidas declararam ter tido queda nos últimos dois anos.

Importante lembrar que a economia brasileira se move sobre rodas. Mais de 80% da produção é deslocada com o uso de caminhões. Empresas e caminhoneiros autônomos são os responsáveis pelo transporte de todas as espécies de mercadorias.

Mas o setor vem sofrendo duramente com a crise. Nem mesmo a safra agrícola recorde prevista para este e o próximo ano traz alento para o segmento. A estimativa é que a produção nacional fique entre 210,5 milhões e 215 milhões de toneladas, 15% a mais do que a produção anterior, que ultrapassou os 186 milhões de toneladas.

O fato é que o setor sofre com vários problemas, como ações trabalhistas e o roubo incessante de cargas.

“Muitas empresas poderão fechar devido a processos trabalhistas. Isso é algo muito preocupante”, comenta Dimas.

A defasagem do frete também foi apontada como uma grande dificuldade pelo executivo da NTC. A entidade realiza, duas vezes por ano, uma pesquisa para verificar a defasagem do frente. O último levantamento mostrou que as empresas estavam cobrando os fretes com valor, em média, 23% abaixo de seus custos. Ou seja, estão tendo prejuízo e comprometendo sua sobrevivência.

O executivo também acredita que programas, como o de inspeção veicular e renovação de frotas, poderá ajudar a alavancar os negócios do setor. “A NTC espera a retomada da economia e trabalha com uma perspectiva de melhora, mesmo que lenta”, declarou o executivo.

Por: Redação Na Boléia

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