Revista: Direção Extraeconômica
A gestão do consumo de combustível sempre foi um desafio para os empresários e motoristas do setor de transporte rodoviário de cargas. Para ajudar esses profissionais, o consultor e instrutor, Luiz Pigozzo, desenvolveu a metodologia Condução Extraeconômica, que tem o motorista como principal pilar na busca pela redução do consumo do diesel.
A gestão de custos sempre foi um desafio para os empresários e motoristas do setor de transporte rodoviário de cargas. Em um País com dimensões continentais, transportar mercadorias e produtos pelas estradas brasileiras é uma operação complexa, que exige planejamento minucioso, afinal, cada centavo economizado pode fazer grande diferença na rentabilidade das empresas.
O fato é que diversos fatores impactam as operações nessa área, as quais passam pelas condições das estradas, conservação e manutenção dos veículos, consumo de combustível e condução do motorista, entre outros.
Para se ter ideia, o combustível tem sido sempre o “calcanhar de Aquiles” para quem trabalha no setor. Nesse sentido, em períodos de recessão, nunca antes a qualidade da condução e a postura do motorista fizeram tanta diferença para a economia de combustível e redução dos custos das empresas.
“Em tempos de desaceleração econômica, quem deseja buscar um resultado diferente na sua operação, precisa fazer algo diferente. E neste momento, em que estamos tendo aumentos extras de combustíveis, o único remédio para neutralizar tais aumentos é a extraeconomia”, explica Luiz Pigozzo, consultor, instrutor, palestrante e coach, que lançou o livro “Consumo de Combustível – Uma Questão de Atitude”. A obra, que já vendeu 10 mil exemplares, traz informações precisas, que podem ajudar os gestores de frota e seus motoristas a identificar e lidar com todas as variáveis possíveis que influenciam no consumo do diesel.
Na visão do especialista, a cada dia o mercado está exigindo motoristas e empresas que tomem as decisões certas e mais econômicas, a fim de se manterem no mercado. “A crise tem seu lado bom, pois obriga empresários empreendedores a buscarem formas diferentes de pensar e um amadurecimento para agir. Os empresários que conseguirem executar a mesma rota com o menor custo operacional, além de garantir uma lucratividade imediata, irão neutralizar seus concorrentes”, garante Pigozzo.
Na verdade, o livro complementa todo um trabalho realizado por Pigozzo, que há três anos vinha ministrando cursos para gestores e motoristas, que têm como base o método da extraeconomia, criado por ele com o objetivo de ajudar motoristas e empresas a pensarem nos detalhes da operação.
Para desenvolver a obra, Pigozzo utilizou os conhecimentos adquiridos durante 35 anos de atuação no setor de transportes. Antes de ser instrutor, ele trabalhou em uma grande montadora de caminhões e ônibus, em São Bernardo do Campo, onde teve a oportunidade de vivenciar o dia a dia de diversas operações.
Na metodologia desenvolvida pelo especialista, o fator principal é o motorista, afinal, segundo Pigozzo, a forma como ele conduz o veículo pode impactar em até 30% os custos das empresas. Com o livro, o autor pretende mostrar como é possível reduzir o consumo de combustível, por meio de um plano de ação inteligente a partir do envolvimento das pessoas.
Conheça mais sobre o tema nesta entrevista exclusiva, concedida pelo especialista à Editora Na Boléia.
Editora Na Boléia – Quais os erros mais comuns de motoristas e empresas na busca por maior economia de combustível?
Luiz Pigozzo – O erro mais comum dos motoristas é não ficar atento ao giro do motor no momento exato onde ele pode extrair o máximo da economia, mas existem muitos outros erros como: aceleração brusca, distância de trecho muito curta, distração e, o principal, a falta de foco na condução econômica.
É possível apontar mais de 100 variáveis que interferem no consumo, as quais envolvem o veículo, as estradas e o motorista. A tríade da eficiência energética (motorista, veículo e operação & manutenção) precisa estar equilibrada para a operação ter também a máxima eficiência.
Por incrível que pareça, um dos maiores vilões do consumo são os vícios operacionais. Recentemente, fiz uma simulação de consumo por cada vício, e um motorista pode contribuir negativamente em até 22 mil litros de diesel por ano. São os custos ocultos que as empresas que não mapearam sua operação não enxergam (Vide Tabela 1).
Hoje, qual o item que representa maior custo para as empresas e motoristas?
Dentro da planilha de custos de uma empresa de transportes, o custo com o combustível é um dos que mais impactam a lucratividade das empresas. O diesel, em particular, pode chegar a 65% dos custos variáveis. Somado a isso, há a política de preços da Petrobras, introduzida no ano passado, muitas ofertas de fretes baixos e ter clientes que não aceitam uma renegociação dos contratos de serviços. Tudo isso vem contribuindo para tirar o sono dos empresários, levando-os a uma lucratividade negativa ou mesmo abandonarem seus negócios.
Qual a importância do motorista nesse contexto?
O fator principal de todo o contexto é o motorista. O estilo que ele conduz o veículo pode impactar em até 30% o custo, e não somente em relação ao diesel, mas em todos os custos operacionais. No entanto, o grande vilão não é o motorista, mas sim as políticas e procedimentos adotados pelas empresas. O motorista é a cara da empresa. Ou seja, se a companhia possui políticas motivacionais, treinamentos de qualidade e procedimentos corretos, certamente, o impacto da condução pelo motorista será bem menor (Vide Tabela 2).
O que é o método de condução extraeconômica? Quais os princípios desse método?
O método da extraeconomia é simples e prático, cujo objetivo é levar à operação para o lucro imediato. O foco da operação (da empresa e do motorista) passa do velocímetro para o conta-giros. Dirigir só na faixa verde não garante a total economia, mas buscar o ponto exato da condução sim.
Condução extraeconômica leva os motoristas e toda a empresa a pensarem nos detalhes da operação, pois os maiores vilões do consumo, como marcha lenta, estão nos detalhes não percebidos pelos profissionais.
O importante é que podem utilizar esse método toda e qualquer operação comercial ou particular que possuam motores de ciclo diesel.
Você menciona a importância de seguir algumas técnicas para economizar combustível. Quais são, basicamente, essas técnicas?
Ao longo deste tempo em que acompanho os motoristas e as empresas, mapeei 17 habilidades e 17 vícios que levam o motorista a buscar a máxima eficiência energética e ser o mais econômico da rota.
Se ele conseguir desenvolver todas as habilidades e eliminar os vícios operacionais, certamente, terá uma condução extremamente segura e econômica. E, para isso, é necessário uma didática diferenciada: mapear esses vícios e habilidades e atuar cirurgicamente em cada motorista para ver seu desempenho melhorar a cada dia (Vide imagens 1 e 2).
No livro, você comenta a importância de mapear o conta-giros. Poderia explicar melhor a economia que pode ser obtida com o monitoramento do conta-giros?
Por incrível que pareça, a maioria dos motoristas não sabe interpretar o conta-giros de um veículo. E quando estamos falando que a segurança e a economia estão no conta-giros e não no velocímetro, bem como quando ele entende o que são potência e torque, a partir deste ponto, ele começa a dirigir o veículo de uma maneira diferente e a economia vem rapidamente. Os motoristas precisam ser desafiados e motivados a buscar a máxima eficiência na sua condução, e o conta-giros é a ferramenta que traz exatamente o que ele precisa saber no momento certo da sua condução (Vide imagem 3).
Mas como o motorista deve agir para monitorar o conta-giros, por exemplo, em uma subida e em uma descida?
Alguns rótulos foram criados induzindo a operação para alguns erros, como por exemplo, subir mais rápido e num giro alto para economizar combustível. Na prática, isso vem se mostrando o contrário: se ele subir uma serra no giro extraeconômico terá uma economia significativa. Logicamente, se diminuir o giro ocorrerá uma pequena perda de tempo. Neste caso, a empresa precisa decidir o que mais interessa para ela: o tempo ou diesel, as duas coisas ele não vai conseguir simultaneamente.
Em resumo, o motorista tem somente dois pontos de trabalho em aceleração: buscar 1/3 da faixa verde, o ponto extraeconômico nas subidas e nas retas, e nas descidas buscar o alto giro para aumentar o poder de frenagem do freio motor. É simples assim.
Muitos gestores de frotas atuam no mapeamento da velocidade. O conta-giros é mais importante do que a velocidade?
Sim, infelizmente se criou uma cultura errônea na busca por limitar a velocidade operacional. É de extrema importância que tenhamos uma velocidade controlada a cada trecho da operação, mas toda a economia e a segurança estão no conta-giros, e não no velocímetro. O motorista pode estar com um veículo com um diferencial curto, dirigindo dentro de que foi determinado, vamos dizer a 80 km/h, e num giro muito alto numa faixa que consome muito combustível. Sendo que, neste caso, ele poderia dirigir a 75 km/h numa faixa econômica, consumindo 5% menos para realizar o mesmo serviço.
Como seu método e aplicável no caso dos autônomos? Como eles podem se beneficiar dessa metodologia?
No caso dos autônomos, eles precisam ter disciplina e buscar a máxima eficiência na operação e nos processos, ou seja, ele é o motorista e a empresa ao mesmo tempo. O foco do autônomo precisa ser economia e não tempo de entrega.
Ele precisa entender que um caminhão parado, por exemplo, para cozinhar sua refeição, custa muito mais caro do que um almoço num restaurante. Teoricamente, ele fica perdendo tempo em preparar sua refeição e depois quer tirar o tempo na velocidade. Perde duas vezes.
Os autônomos têm uma jornada dupla. Eles precisam buscar um transporte no menor custo possível e, para isso, buscar a máxima eficiência. Por isso, é importante ficar de olho no conta-giros, em especial no ponto extraeconômico, além de ter e manter uma distância de seguimento muito boa (o dobro que eles mantêm hoje) e dirigir com previsibilidade. Estas são as dicas que vão levar o autônomo para a máxima economia (vide imagem 4).
Mas o pulo do gato, está no aproveitamento da energia do veículo. Quanto mais ele utilizar a inércia e a gravidade em seu favor, mais economia ele terá, pois, muitas vezes, a economia tirada pelo acelerador está no seu limite.
Em média, de quanto é a economia de combustível a partir da utilização de sua metodologia e em quanto tempo é possível perceber essa economia?
De todos os relatos e comprovações obtidas, a redução de consumo de diesel foi, no mínimo, de 6%, e no máximo de 30%, sem falar dos outros custos e insumos, dependendo do nível que se encontra a operação, mas, certamente, todas tiveram um ganho na economia e diminuição do estresse do motorista. O resultado vem de imediato e num prazo máximo de 60 dias, que é um tempo de readaptação do motorista.
Hoje, os caminhões possuem alta tecnologia, mas os motoristas nem sempre têm a qualificação adequada para aproveitar todos os benefícios dos recursos disponíveis nos veículos. Como corrigir isso?
Esse é um dos maiores desafios das empresas hoje. O analfabetismo funcional. E, principalmente, no setor de transportes, o índice é maior do que na indústria. O piloto automático, como exemplo, foi introduzido no Brasil há mais de 20 anos e até hoje não é usado por medo ou receio de se consumir mais combustível. As tecnologias estão vindo para deixar a operação mais rentável, mas, de um lado, as montadoras brasileiras estão segurando as inovações – acredito que estamos 15 anos atrasados em relação à Europa – do outro lado, os empresários não investem porque seus motoristas não usam.
Urgentemente, as instituições e as empresas precisam criar atrativos e motivar os motoristas a utilizarem a tecnologia em seu favor, promovendo treinamentos com técnicas modernas para trazer a funcionabilidade. Em resumo, motivação com tecnologia leva à empresa para um lucro muito rápido.
Por Luiz Pigozzo e Madalena Almeida