Muito se fala sobre a qualidade das estradas brasileiras, e o seu mau estado de conservação comumente é apontado como sendo o responsável por acidentes, pela quebra dos veículos e pelo estouro de pneus, o que acabou sendo assimilado pelo setor de transportes como uma verdade ao longo do tempo.

Entretanto, informações e fatos ocorridos de uns tempos para cá nos levam a pensar sobre o assunto. Em uma série de eventos sobre transporte em que o tema Segurança é comum a todos, policiais rodoviários apresentam dados estatísticos que apontam haver um maior índice de acidentes em rodovias em bom estado do que naquelas cujo piso seja precário. E a explicação para isso é lógica e simples.

Em rodovias bem conservadas, a velocidade média é mais alta, exatamente pela melhor condição de tráfego, porém, isso tem duas consequências: exige uma reação muito mais rápida por parte do motorista em resposta ao que acontece ao seu redor; e a condução do veículo é feita em um nível de atenção mais baixo, menos atento. Se a taxa de risco é menor, a atenção é reduzida.
Um terceiro fator é ocorrer um abuso ainda maior na quantidade de horas ao volante pela ilusão de que em boas estradas o cansaço físico será menor e, por isso, o motorista pode passar mais horas ao volante. Estradas muito retas, sem grandes alterações na topografia, em que pouco se exige do condutor, levam à monotonia e sonolência, que podem acarretar acidentes.
Quanto às quebras, é certo que buracos contribuem para que estes aconteçam, mas não podem ser considerados como o único fator a contribuir com isso. Vamos fazer um pequeno exercício de imaginação:

– Digamos que você está dirigindo o seu carro por uma rua no bairro em que mora, e que lá exista uma lombada. Se você passar por essa lombada à velocidade de 20 km/h, o carro vai balançar. Mas se fizer meia volta e passar por cima da mesma lombada a 80 km/h, o impacto vai ser muito forte. O que mudou?

O veículo é o mesmo, a altura da lombada também. Mas a velocidade, não. Em uma estrada esburacada, a situação é idêntica. Se trafegar em velocidade compatível com o estado do piso, as quebras, se ocorrerem, serão mínimas. Mas, se rodar como se não existissem problemas, em velocidade elevada para as condições da pista, aí é quebra na certa.

Em resumo: sem dúvida, o estado de conservação da pista contribui para que as quebras ocorram, mas esses problemas podem ser maiores ou menores, dependendo de como o condutor encara sua responsabilidade para com o equipamento, e como conduz aquele “pequeno” patrimônio chamado veículo.

Primeiro, é preciso ressaltar que um veículo só quebra na mão do motorista. E isso não tem nada a ver com os cuidados que o motorista possa ter ou não. A razão é que quebras só acontecem quando o veículo é usado, e só quem usa é o motorista. Nada quebra enquanto estiver parado, sem uso. Mas se os setores responsáveis pela operação não permitem que a oficina faça a sua parte, usando a velha e surrada desculpa de que “precisa fazer mais uma viagem”, deixando a revisão, o conserto e a manutenção para depois, as quebras se tornam mais frequentes.

Por condição de operação, devemos avaliar primeiro se existe carga de retorno e se houver qual o peso transportado. Na teoria, um veículo de carga é feito para isso: transportar carga. Mas se no retorno voltar vazio ou com peso baixo, vem “batendo lata”, como se costuma dizer, e isso ocorre porque, na falta de peso – ou com baixo peso –, a carroceria pula devido às ondulações existentes no piso, que nunca é totalmente plano. Entre outros problemas, as consequências mais imediatas são o desgaste irregular dos pneus, principalmente, os dianteiros, que gastam de forma ondulada, e a quebra frequente das molas por excesso de vibração. Outras situações são a queima de lâmpadas, rachaduras e trincas nos para-lamas, no suporte da bateria, na fixação e na colméia do radiador. Para amenizar esses efeitos, é preciso retornar em velocidade moderada.

Com relação ao estouro dos pneus, em parte a situação é semelhante. Um impacto pode causar um dano que apenas inicia o problema. O estouro mesmo ocorre bem depois. Em uuma estrada esburacada, mas por onde se trafegue em velocidade compatível, os impactos sofridos pelos pneus são menores. Mas se rodar em velocidade elevada, ou não diminuir para passar em uma cabeceira de ponte com diferença de nível, não consertar os pneus adequadamente, e logo que surgir um furo, um corte ou outro dano, fatalmente esse pneu vai estourar, mais cedo ou mais tarde.

Tempos atrás, recebi um material com exatas 236 páginas de um estudo da NHTSA – National Highway Traffic Safety Administration, órgão subordinado ao Departamento de Transportes do Governo Federal dos Estados Unidos (o famoso DOT), em que concluíram que o “jacaré” (ou aligator, em inglês) solto pela estrada não tem relação nenhuma com o fato de o pneu ser reformado ou não, mas sim com as condições de utilização e de manutenção do pneu e do veículo. E olhe que por lá as estradas são uma maravilha.

Por: Pércio Schneider 

4 comentários sobre “Revista – Artigo: Quebra dos veículos e estouro de pneus. Por que isso acontece?

  1. muito bom o artigo da boleia, a cada leitura que faço relacionada a transporte, mais me enrriquece o conhecimento, parabéns.

  2. Prezado Manoel, obrigada pelos comentários….é sempre importante criarmos espaços para debater questões que impactam o setor de transportes. Fique à vontade para manifestar sempre suas opiniões. Abraços!

  3. prezado sr. apos a introdução pela ganancia de autos lucros as recapadouras de pneus estão enganando todas as empresas de transportes pois alegam de tudo de tudo para não atender a garantia dos pneus que produzirão pois entre os fabricantes e recapadores á um corporativismo coletivo e um respeita o outro,e o transportador fica com o prejuizo.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.