CTB completa 20 anos. O que temos para comemorar?
Na época do lançamento do CTB, em 23 de setembro de 1997, houve, por parte da sociedade civil, um aumento de prudência, mensurado pela ligeira redução das infrações. Mas à medida que a inação dos governantes foi sendo constatado, velhos hábitos voltaram a ser praticados. Hoje, 20 anos após a entrada em vigor do Código, constatamos que diariamente 150 pessoas são mortas no trânsito brasileiro e uma pessoa sequelada a cada minuto.
Mais da metade dos pacientes dos leitos hospitalares é ocupada por vítimas de acidentes de trânsito.
Para a sociedade, significa a perda de mais de 40 mil vidas, sem falar nas centenas de milhares de mutilados e gravemente feridos: para os cofres da Previdência Social, a economia de bilhões de reais com o pagamento de indenizações, internações hospitalares: para os hospitais trata-se de milhares de leitos ocupados por vítimas de acidentes de trânsito que poderiam ser ocupados por tantos brasileiros que necessitam de atendimento hospitalar.
Para o setor privado, sobre quem recai o grosso da conta, a grande interrupção da produção e da produtividade com o absenteísmo. Para as famílias, a dor e preocupações causadas pelos acidentes, além da indiscutível perca da qualidade de vida da população como um todo que passa a ter no trânsito mais um sentimento triste frente ao País em que vive e um comprometimento maior da autoestima.
Com um trânsito melhor as cidades ganham maior poder de competitividade, pois podem oferecer aos investidores uma melhor qualidade de vida aos visitantes. Aliás, esse argumento poderia ser largamente utilizado por algumas prefeituras, interessadas em fisgar bons investimentos para suas cidades.
Apesar da existência da Lei 9503, Artigo 76 do Código de Trânsito Brasileiro, que diz que a educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º., 2º. e 3º. Graus, além de poucas ações isoladas, nada é feito sobre isso.
Com isso, o acidente de trânsito é a principal causa de morte acidental de crianças e adolescentes de um a 14 anos de idade no Brasil.
Para piorar, boa parte dos legisladores e executivos acreditam, por conveniência, que o acidente acontece porque tem de acontecer. Essa tese do fatalismo exclui a responsabilidade de todos.
Quase 75% dos acidentes estão na população economicamente ativa. São pessoas que deveriam estar trabalhando. Para alguns especialistas econômicos, os números demonstram urgência no investimento em segurança viária no país. Mas isso por si só não resolve o problema.
Com um investimento em educação, o conceito e participação de todos sobre direitos e responsabilidades, participação, não somente de placas e sinalizações, mas de vários fatores que comprometem a sua segurança, estaríamos trazendo ganhos para a nossa sociedade. Somente algumas campanhas isoladas sobre Segurança no Trânsito não estão sendo suficientes.
Para Salete Romero, Palestrante, Especialista em Psicologia e Segurança no Trânsito e Autora do livro “Erros Bem-Intencionados no Trânsito – O que todo motorista deveria saber! Mas acredita que já sabe!”, dessa forma, estamos apagando um enorme incêndio na floresta com conta-gotas.
Primeiro porque precisamos sim de rodovias em ótimo estado de conservação. Além de ser um direito do cidadão que paga impostos, a produção do País precisa ser movimentada gerando ganhos naturais para o Brasil, mas sem preparo ideal para esses condutores, nós só estamos expandindo o número de mortos nessas vias. Para isso, basta olhar os números: 81% dos acidentes graves ocorrem em rodovias em ótimo estado de conservação.
Isso ocorre porque os condutores brasileiros não sabem lidar com o que deveria ser o melhor para ele. Rodovias em ótimo estado de conservação. Não foram preparados para isso!
Segundo Salete, antes de ensinar o homem a dirigir, devemos ensiná-lo a caminhar, a pedalar, a pilotar.
“Pulando essas etapas, como fazemos hoje e distribuindo folhetos uma semana por ano para alguns brasileiros, em nome da SNT estamos assistindo a uma epidemia que, se não for tratada imediatamente, com uma educação de trânsito como consta no CTB, seremos um país muito famoso no mundo por não dar valor nenhum à vida das pessoas e não fazer nada para mudar isso”, acrescenta.
“Não basta trabalhar o tema apenas durante uma semana, é muito importante que a abordagem se estenda durante todo o ano, contribuindo para uma efetiva mudança de comportamento da população”, diz. Não é aceitável que tantas pessoas continuem morrendo no trânsito. Os números falam por si. O Brasil é o 4º colocado nesse triste ranking global, com mais de 40 mil mortes por ano, e por isso tem grandes desafios. A boa notícia é que existem soluções e experiências de diferentes cidades do mundo capazes de transformar essa realidade.
Ninguém quer matar ou morrer apenas por estar se deslocando de um lugar para outro. Cabe a quem planeja antecipar eventuais casualidades, salvar vidas antes que elas estejam por um fio. O padrão atual de desenvolvimento urbano, voltado principalmente pela priorização de deslocamentos de veículos individuais, mostrou-se violento demais. Ele claramente não está dando certo e não pode mais ser tolerado em sociedades deste século.
Por: Redação Na Boléia