A atividade de dirigir um caminhão já foi associada a sintomas como ansiedade, depressão, estresse, sofrimento psicológico e outros distúrbios psiquiátricos, de acordo com estudos conduzidos pelo Wyanoke Group, associação de entidades da área de saúde estabelecidas nos Estados Unidos.

Fatores como alta demanda psicológica, baixo apoio social e jornada extensa e estressante de trabalho podem se somar a problemas pessoais e condições que não sejam as ideais na rotina de um caminhoneiro, tornando o Setembro Amarelo – Campanha Nacional de Conscientização Sobre a Prevenção ao Suicídio – uma ocasião mais do que necessária para abordar a saúde mental desses profissionais.

A Associação Brasileira de Tráfego (ABRAMET) estima que doenças orgânicas em caminhoneiros, incluindo a depressão e outros distúrbios que afetam o bem-estar psicológico, sejam responsáveis por em torno de 12% dos acidentes fatais de trânsito. Ainda segundo a entidade, tais ocorrências responderam por cerca de 250 mil acidentes em rodovias federais entre 2014 e 2019, excluindo-se incidentes em centros urbanos e estradas estaduais. Neste cenário, destacam-se os desafios e iniciativas levadas a cabo por parte de empresas e entidades do setor de transporte rodoviário de cargas tendo em vista a saúde mental dos seus motoristas.

A Presidente executiva do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo (SETCESP) e diretora da Seção de Cargas na Confederação Nacional do Transporte (CNT), Ana Jarrouge destaca, neste contexto, a importância dos Pontos de Parada e Descanso, também conhecidos por PPDs, desde que possuam uma estrutura adequada: local fechado com vigilância e controle de acesso, banheiros em boas condições e com chuveiros quentes, local limpo para refeição e descanso, acesso à internet para se comunicar com a família e empresa, entre outros pontos relevantes.

Os PPDs são fundamentais para que os motoristas possam recuperar suas energias de forma adequada, garantindo que a sua dirigibilidade se mantenha sempre atenta e segura”, explica Jarrouge. “Além da infraestrutura, é extremamente importante oferecer apoio a estes profissionais e nosso Sistema S, por meio do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), oferece acompanhamento psicológico gratuito, presencial e on-line”, completa.

Jarrouge atua há mais de 28 anos na área, é também idealizadora do Movimento Vez & Voz, projeto que fomenta a participação de mulheres no setor, ainda ressalta a importância da prevenção na pauta das empresas, uma vez que os reflexos do descuido com relação ao bem-estar psicológico muitas vezes só são sentidos tarde demais. Para isso, as transportadoras precisam estar sempre atentas.

A direção das empresas deve atuar em conjunto com a equipe de Recursos Humanos, desdobrando esse cuidado numa política de RH que contemple avaliação e acompanhamento dos motoristas. Uma iniciativa capaz de detectar qualquer desvio de comportamento, sinalizando que algo não está correto”.

Nesse sentido, a Mahnic Operadora Logística é uma das empresas que investe na prevenção e atua junto ao RH e seus motoristas. A diretora operacional da companhia, Ludymilla Mahnic, relembra o seu passado familiar para discorrer sobre o assunto.

Meu avô, meu pai e meus tios eram caminhoneiros, então a minha família e, consequentemente, a nossa empresa conhece de perto essa realidade. Nós temos a preocupação de demonstrar um cuidado imenso no momento de recepcionar os motoristas em nossa matriz, filiais e pontos de apoio”, explica. Ela vai além e lista ações que a transportadora tem implementado: “Campanhas internas, palestras com profissionais de saúde e consultas psicológicas periódicas fazem parte da nossa rotina. Quinzenalmente, nossa psicóloga entra em contato com os motoristas para que eles possam desabafar e falar sobre o que se sentirem confortáveis em compartilhar”.

No relatório global “Estado Mental do Mundo 2022”, o Brasil é o 3º país pior colocado no índice de saúde mental de acordo com o ranking elaborado pela consultoria Alvarez & Marsal. E de acordo com a Confederação Nacional de Transportes (CNT), o Brasil conta com uma média de sete acidentes a cada dez quilômetros de rodovias. Assim, a saúde mental dos caminhoneiros adquire importância vital em pleno Setembro Amarelo. “Investir no bem-estar mental desses profissionais é também investir na eficácia e na segurança das estradas e de toda a operação que o transporte de cargas envolve”, finaliza a executiva.

Por Redação Na Boléia



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