4-3-rev18-03-2019-minApesar dos inúmeros esforços na busca por uma solução que possa coibir o roubo de cargas nas estradas do País, este é um problema que continua causando enormes prejuí-zos à nação, exigindo uma atuação firme do Governo e medidas mais amplas e efetivas.

Para se ter ideia, em 2017, segundo dados da NTC&Logística, o roubo de carga resultou num prejuízo de R$ 1,574 bilhão em todo o País. Considerando que, segundo estimativas, 20% dos veículos roubados não são recuperados, essa perda chegaria a mais R$ 1 bilhão, totalizando R$ 2,5 bilhões de prejuízo.

Em 2018, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal, houve uma certa queda nos roubos, mas apesar da redução, o número de ocorrência ainda é alto. As mercadorias mais roubadas por ordem de interesse são: produtos alimentícios, cigarros, eletrodomésticos, produtos farmacêuticos, produtos químicos e autopeças.

A região Sudeste ainda lidera com o maior número de casos, com 85,8% das ações criminosas, tendo o Rio de Janeiro e São Paulo como os estados mais perigosos para transporte de cargas. Já o Nordeste vem em segundo, seguido pelo Sul, Centro-Oeste e Norte.

O aumento dos roubos de cargas no Brasil deve-se, em muito, ao número reduzido de agentes da Polícia Rodoviária Federal.

Além disso, a falta de leis mais rígidas acaba funcionando como um incentivo para que mais pessoas se envolvam com a receptação e armazenamento de mercadorias roubadas.

Uma outra pesquisa divulgada pelo comitê de transporte de cargas do Reino Unido, o Joint Cargo Committee, colocou o Brasil em 6º lugar no ranking de lugares mais perigosos para as transportadoras de carga.

No levantamento, foram relacionados 57 países. O Brasil só ficou atrás de países que estão em conflito, como a Síria, Líbia e Afeganistão, Iraque e Somália. Se desconsiderarmos essas nações, o Brasil ocupa o primeiro lugar.

Para se ter ideia da gravidade, em mais de 20 países europeus, além dos Estados Unidos e Canadá, a quantidade de ocorrências de roubos de cargas registrada no Brasil levou 44 dias para ser superada.

4-1-rev18-03-2019-minNova lei

Na tentativa de coibir a ação das quadrilhas, o Governo Federal sancionou, em janeiro deste ano, a lei nº 13.804/2019, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao contrabando, ao descaminho, ao furto, ao roubo e à receptação de cargas em todo o País.

O grande destaque da lei é que os motoristas que forem coniventes com o roubo de cargas serão também penalizados. Ou seja, a norma determina que o condutor de veículo utilizado para a prática de receptação, descaminho e contrabando, condenado por um desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá seu documento de habilitação cassado ou será proibido de obter a habilitação para dirigir pelo prazo máximo de cinco anos.

Em contrapartida, a legislação não contemplou o dispositivo que previa que a pessoa jurídica que transportasse, distribuísse, armazenasse ou comercializasse produtos, frutos dos referidos crimes, poderia, após processo administrativo, ter baixada sua inscrição no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas). Essa era, por sinal, uma reivindicação defendida pela NTC&Logística.

Em recente declaração à imprensa, o presidente da entidade, José Hélio Fernandes, disse que a nova lei é um avanço, uma vez que existem quadrilhas que se utilizam dos condutores para concretizar o furto.

A medida agradou o setor, mas ainda é preciso muito mais para solucionar esse grave problema. O fato é que o Governo precisa atuar de forma mais intensiva, buscando maneiras de acabar com a receptação. Afinal, se existe o roubo é porque pessoas e empresas fazem a receptação.

Na visão de muitos motoristas, esse problema está longe de acabar.

“O Governo diz que tem intensificado a fiscalização nas estradas, mas a verdade é que existem regiões em que só isso não basta. Em algumas rodovias, os bandidos são tão bem equipados que desafiam a própria polícia rodoviária federal”, comenta Joaci Medeiros, motorista há 18 anos.

Ele conta que já teve a carga roubada e que viaja sempre com receio de ser novamente assaltado.

4-2-rev18-03-2019-minTecnologia: uma grande aliada

A tecnologia também tem ajudado o setor, que conta com diversas ferramentas aplicadas na gestão de riscos, visando à prevenção de perdas na operação como um todo. Mas apesar desses investimentos, muitos motoristas viajam apreensivos.

“Na transportadora em que trabalho, são utilizados vários recursos, como iscas, rastreadores, entre outros, que têm auxiliado na prevenção. Mas a verdade é que o medo sempre nos acompanha”, revela Valter dos Santos, motorista há 13 anos.

Além dos equipamentos utilizados pelas transportadoras, alguns caminhoneiros também buscam adotar medidas preventivas para não serem surpreendidos pelas quadrilhas. “Procuro parar em locais seguros e, sempre que possível, em rotas potencialmente mais perigosas, tento não viajar à noite. Se bem que os bandidos agem em qualquer hora do dia”, declara Silvio Stornik, motorista há nove anos.

De fato, o País tem avançado na legislação para combate desse crime, e a tendência é que novas leis mais rigorosas surjam visando solucionar esse problema.

Enquanto isso não acontece, algumas dicas são fundamentais e podem ser seguidas por motoristas autônomos quanto pelas transportadoras. Confira.

DICAS PARA EVITAR O ROUBO DE CARGAS

Atenção o tempo todo

É importante orientar os motoristas para algumas práticas utilizadas pelas quadrilhas para roubar cargas. Uma delas é a promoção de falsas blitzes. Fique atento com blitzes em vias com menor volume de tráfego.

Outro cuidado é não revelar para estranhos o conteúdo da carga que está carregando ou mesmo a rota. Procure checar também se há veículos seguido o caminhão.

Além da orientação e dicas de segurança, é importante que o motorista tenha informações sobre as rotas mais críticas, em que o índice de assaltos tende a ser mais elevado.

Opte por rotas variadas

Seguir sempre o mesmo trajeto é tornar-se um alvo mais fácil para os bandidos. Pesquisas mostram que alterar as rotas pode ajudar a driblar as quadrilhas. Até porque, para agirem, os bandidos costumam analisar a frequência das rotas dos caminhões.

É recomendável também que o motorista alterne os locais que costuma parar para abastecimento, descanso e alimentação, a fim de não criar uma rotina que pode ser facilmente registrada pelos bandidos.

Caso não conheça a rota, o condutor deve procurar informações sobre postos de serviços e locais de parada seguros.

Viaje durante o dia

É fato que ocorrem roubos à luz do dia, mas as estatísticas mostram que a maior parte dos roubos acontece durante a noite, quando há menos visibilidade e menor volume de carros, sem contar que os motoristas estão mais cansados e desatentos.

Mas caso não haja outro jeito, é importante manter uma comunicação constante com a empresa e outros colegas motoristas.

Faça uso da tecnologia

A tecnologia é uma grande aliada no combate ao roubo de cargas. Hoje, graças às ferramentas disponíveis, é possível acompanhar o caminhão, obtendo dados sobre localização, condições das estradas e anormalidades que estejam ocorrendo no trajeto.

Tente viajar em comboio

Sempre que possível, procure viajar com outros caminhoneiros, principalmente em viagens noturnas. É mais difícil para os criminosos atuarem quando há comboio.

Não dê caronas

Infelizmente, dar caronas não é uma atitude segura, pois bandidos podem se aproveitar dessa gentileza para render o motorista. É arriscado colocar algum desconhecido dentro do caminhão. Evite essa prática.

Evite também parar para prestar socorro a mulheres ou crianças na estrada. Em vez de parar, acione a PRF.

Não reaja

Caso seja assaltado, tente manter a calma e não faça movimentos bruscos, obedecendo o assaltante. Tente memorizar o maior número de detalhes que poderão ser úteis na investigação.

Lembre-se: mais importante que a carga ou pertences, é a sua vida. Nunca reaja.

Por Editora Na Boléia.

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