5-2-rev-18032019-minApesar das inúmeras iniciativas e campanhas educativas, o trânsito continua fazendo milhares de vítimas todos os anos não só no Brasil, mas em todo o planeta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes no trânsito aumentou substancialmente no mundo todo. Em 2018, 1,35 milhão de pessoas perderam as vidas devido a acidentes de trânsito – em 2009, o índice mundial, por exemplo, foi de 1,2 milhão de mortos.

O País ainda detém as primeiras posições no ranking das nações em que o trânsito mais mata: somos o quinto com mais fatalidades nas estradas. Apesar dos avanços no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e o endurecimento da legislação nessa área, o motorista brasileiro ainda deixa muito a desejar quando está atrás do volante: estatísticas apontam que o comportamento inadequado no trânsito é um dos fatores que mais provocam acidentes.

Um estudo realizado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação sobre Segurança nas rodovias federais brasileiras indica que 53,7% dos acidentes são causados pela negligência ou imprudência, seja por desrespeito às leis de trânsito (30,3%) ou falta de atenção do condutor (23,4%).

E são justamente essas atitudes equivocadas e de desrespeito às leis de trânsito – alta velocidade, ultrapassagem indevida, ingestão de álcool, desobediência à sinalização e não guardar distância de segurança, entre outras – que causam os acidentes que resultam em mais óbitos.

“Nos casos de excessos de velocidade, por exemplo, em geral, a desculpa mais comum é que o motorista ‘não percebeu que estava acima do limite’. Outro argumento bastante usado é que o limite estabelecido pelas leis é considerado baixo. Entre aqueles flagrados utilizando o celular enquanto dirigem, a principal justificativa é ‘o recebimento de chamadas urgentes ou importantes’”, descreve Claudia de Moraes, diretora da Procondutor, empresa voltada ao segmento de formação e capacitação de condutores.

Para a diretora, o motorista brasileiro não tem a percepção de que a educação no trânsito é algo importante para sua vida. Tanto é que só temos o primeiro contato com esse tema quando vamos tirar a CNH. A verdade é que, devido às deficiências educacionais do País como um todo, o brasileiro não foi ensinado a se portar de maneira correta em várias áreas da vida, especialmente quando está ao volante.

Isso talvez explique o fato de o País, mesmo diante de leis mais rígidas e mais modernas, ainda continuar a ostentar altos índices de mortes e acidentes de trânsito.

Na opinião de Claudia, a educação no trânsito deveria ser discutida desde o Ensino Médio, ou seja, na fase mais importante, que é a da construção da pessoa. “Por isso, é essencial termos o trânsito como tema transversal na escola. Além disso, o conteúdo aprendido em aulas também pode incentivar os jovens a pensar em soluções relacionadas ao trânsito e mobilidade, gerando debates em casa, fazendo com que os pais sejam estimulados a adotar boas práticas ao dirigir, o que seria fundamental para ajudar a reduzir o índice de acidentes no País”, acrescenta Claudia.

O fato é que, infelizmente, ainda hoje, muitas pessoas necessitam de coerção legal para agirem e manterem a ordem e segurança no trânsito. Para se ter ideia, países mais desenvolvidos possuem fiscalização muito menor do que a brasileira, bem como um volume de autuações também pequeno em comparação ao aplicado por aqui.

Por isso, a educação no trânsito desde a infância tem se tornando tão importante e hoje se mostra como o melhor caminho para a diminuição dos acidentes.
O CTB estabelece a educação no trânsito desde cedo, mas o País não possui um plano que garanta, de fato, o seu aprendizado como disciplina nos currículos escolares. O que se vê são ações isoladas em alguns estados.

Mudanças na formação

5-1-rev-18032019-minSomada à falta de educação na base, a deficiência das autoescolas, que até há bem pouco tempo adotavam modelos ultrapassados para formação e preparo dos motoristas, também contribuiu para termos condutores mais despreparados.

Com as alterações no CTB, o País vem conseguindo alguns avanços importantes nesse âmbito. Hoje, os Centros de Formação de Condutores, por exemplo, possuem estruturas mais preparadas para formar e capacitar motoristas.

As mudanças também possibilitaram a criação do curso de reciclagem que tem como objetivo conscientizar os condutores – principalmente os que tiveram habilitações cassadas ou suspensas – sobre a responsabilidade que é a direção. A partir deste recurso, eles podem identificar erros que cometeram e entender a importância de não repeti-los. “Geralmente, o conteúdo da reciclagem provoca reflexão nos alunos, ainda mais com os recursos atuais, como cases, vídeos, animações, além de exercícios e simulados para fixação, que facilitam o aprendizado”, garante Claudia.

Na verdade, nos últimos anos, os Centros de Formação de Condutores passaram a oferecer recursos que antes não existiam ou que se tornaram necessários em razão do comportamento dos jovens brasileiros. Os simuladores de direção e as plataformas digitais são também bons exemplos disso.

O primeiro, hoje obrigatório nas escolas, permite ao aluno treinar para condições adversas, como chuva, neblina e direção noturna, e situações como enfrentar uma aquaplanagem ou ter pessoas e animais atravessando à sua frente de forma inesperada.

Todo motorista em processo de reciclagem ou candidato à primeira habilitação deve fazer pelo menos cinco aulas no simulador, considerado essencial para que o aluno tenha noção de como sair de situações adversas ao volante. O simulador tem como apelo preparar com muito mais eficiência o cidadão candidato à motorista.

“Os simuladores de direção não só são eficazes no processo de formação de condutores, como também servem como importantes aliados no treinamento, capacitação, aprimoramento e reciclagem de motoristas. Esses equipamentos auxiliam também condutores inseguros de enfrentar algumas situações nas ruas, ou até mesmo os que têm medo de dirigir. Para se ter ideia, o treinamento permite que os motoristas errem quantas vezes forem necessárias até atingirem o objetivo – seja ele dirigir à noite ou efetuar uma baliza.”, explica Sheila Borges, especialista em simuladores de direção e diretora da ProSimulador

Ela lembra que como o aluno está em um ambiente totalmente seguro, ele consegue se sentir confiante para se preparar para essas adversidades.

Já em relação às plataformas de educação a distância e seus recursos de aprendizagem, mobilidade e gestão de processos, Sheila ressalta que são fatores relevantes para o sucesso dos cursos, uma vez que os CFCs oferecem importantes diferenciais para formação de seus alunos, flexibilizando os horários e garantindo uma experiência eficaz de aprendizado, com mais dinamismo e interatividade.

Educação para mobilidade

O fato é que para uma mudança de comportamento, é preciso uma mudança de mentalidade. “Antigamente, as pessoas não utilizavam cinto de segurança e eram relutantes à lei que o tornou obrigatório. Com o passar do tempo, as campanhas educativas e a aplicação de multas foram surtindo o efeito desejado – além da democratização do acesso à informação – e, hoje, é automático entrar em um automóvel e colocar o acessório”, lembra Viviane Macedo, especialista em mobilidade humana e gerente do Instituto Mobih.

Para ela, é possível mudar motoristas com vícios de direção, informando e mostrando permanentemente sobre os perigos e consequências do mau comportamento no trânsito, por meio de ações e campanhas nos mais diversos canais de divulgação, sejam on-line ou off-line, além, é claro, da fiscalização, que também atua como agente de conscientização.

“Também defendemos a educação para a mobilidade e o trânsito, seja para novos motoristas, por meio de simuladores de direção que os coloquem em situações de risco que eles não poderiam enfrentar em aulas práticas convencionais, seja para crianças e adolescentes, na grade curricular escolar, a fim de formarmos adultos mais conscientes e preparados para transitar em cidades cada vez mais movimentadas e com diferentes tipos de modais”, pontua Viviane.

Na visão de Viviane, é fundamental que haja também um calendário de campanhas e ações efetivas em relação a esses temas, além do aumento da fiscalização e da aplicação de multas. “Nesse contexto, é preciso estudar uma forma de enviar, juntamente com a multa, informações quanto às consequências que a infração cometida pode causar. Em vez de o condutor receber somente a foto do veículo que o radar detectou em alta velocidade, por exemplo, também ter acesso a dados estatísticos sobre o número de mortos e feridos em razão daquele comportamento”, sugere a especialista.

A especialista ainda defende o desenvolvimento e realização de ações e campanhas continuadas durante todo ano, utilizando a tecnologia como facilitadora e como ferramenta de divulgação e conscientização, sempre com base no tripé que forma o trânsito seguro – educação, engenharia e fiscalização.

“A tecnologia pode e deve ser aplicada justamente para combater esse tipo de comportamento, uma vez que consegue, por meio de dados, traçar o perfil de diferentes condutores e oferecer uma capacitação personalizada a cada um deles, levando em conta o padrão da forma como dirige”, analisa.

Ela lembrou que já existem empresas, como a WisePro BI, por exemplo, que oferecem esse tipo de solução para gestores de frotas, diminuindo assim o número de infrações cometidas pelos motoristas, além de aumentar o nível de capacitação deles.

Alinhada a tudo isso, umas das campanhas lançadas pelo Instituto Mobih diz respeito ao uso do celular. Trata-se da ação A Vida é Mais Urgente, que alerta para o uso da tecnologia de forma sensata, sobretudo, no trânsito. “Vale lembrar que o aparelho causa acidentes para os condutores que checam o telefone enquanto dirigem e também para os pedestres que andam pelas ruas imersos em seus smartphones, sem perceberem o que acontece em volta”, acrescenta.

A verdade é que trânsito tem a ver com cidadania e não se restringe somente a pedestres e motoristas, ou seja, tem um sentido muito mais amplo que envolve todas as pessoas que se movem. “Defendemos a mobilidade humana (e não urbana), afinal, quem se movimenta pelas cidades são as pessoas, e não os veículos. A partir desse conceito, entendemos que cada indivíduo faz parte do trânsito e deve sentir-se parte dele, refletindo sobre suas atitudes, seja como motorista, pedestre, ciclista ou usuário de transporte público. O ser humano está no centro da transformação da mobilidade e tem, sim, o poder de alterá-la. Para isso, precisa ser informado, engajado, formado e capacitado para que, consequentemente, mude sua atitude, assimile um novo comportamento e esteja mais perto de uma mobilidade cada vez mais inteligente e segura”, ressalta Viviane.

Por: Redação Na Boléia

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