Estudo realizado pelo Instituto Cordial em parceria com a Uber calculou que acidentes de trânsito pioram os congestionamentos de maneira significativa até três horas após a ocorrência, chegando a reduzir a velocidade média das vias paulistanas em até 32% na primeira hora.

O estudo mostrou ainda que os acidentes de trânsito são mais frequentes quando há congestionamento: a chance de ocorrer um acidente é 3,7 vezes maior quando há congestionamento leve e 6,3 vezes maior com congestionamento pesado.

Considerando apenas atropelamentos, a probabilidade é 4,5 vezes maior com congestionamento leve e chega a ser 8,5 vezes maior com congestionamento pesado; no caso de motocicletas, a chance de atropelamento de pedestres é 90 vezes maior com congestionamento pesado.

As conclusões fazem parte do relatório “Velocidades médias e segurança viária em São Paulo”, que cruzou os dados de 13 mil acidentes de trânsito mapeados pela Prefeitura em 2018 com 572 milhões de registros de velocidade média nos 16 mil km de vias da cidade.

Os dados de velocidade foram compartilhados por meio da plataforma Uber Movement (movement.uber.com), um site público e gratuito que exibe o histórico de velocidades médias de centenas de milhares de vias da região metropolitana, calculadas a partir das viagens intermediadas pela Uber.

De acordo com o instituto, como os dados de velocidade estão disponíveis hora a hora, para a análise do impacto de acidentes foi adotada metodologia para evitar que as estimativas fossem influenciadas pelo congestionamento ocasionado pelo próprio acidente.

Para Luis Fernando Villaça Meyer, diretor de operações do Instituto Cordial e coordenador do estudo, ainda que a chance de acontecer um acidente em situações de congestionamento seja maior, o relatório aponta que eles não são necessariamente mais severos, a não ser quando a velocidade é mais elevada.

“A correlação entre congestionamento e taxa de fatalidade desaparece quando se considera outras informações dos acidentes, indicando que congestionamento e fatalidade se associam apenas de maneira indireta“, afirma.

Além dos dados de acidentes e velocidades, o estudo também utilizou no cruzamento um banco de dados elaborado pelo Instituto com características do sistema viário paulistano, como largura da pista, tipos de cruzamento ou presença de elementos como radares no local de cada acidente, por exemplo.

O cruzamento e tratamento dos dados possibilitou que o estudo analisasse, com 99% de confiança estatística, sete hipóteses levantadas pelo Painel da Segurança Viária, iniciativa liderada pelo Instituto Cordial com a participação de 50 organizações, empresas e órgãos públicos.

Hipóteses analisadas

  • Quando há congestionamento na via, os acidentes são mais frequentes
    ✓ CONFIRMADA: a chance de ocorrer um acidente é de 3,7 a 6,3 vezes maior.
  • Sempre que o fluxo está livre, há mais acidentes fatais
    ✘ NÃO CONFIRMADA: acidentes ocorrem sobretudo em vias arteriais, fora dos picos.
  • Quando a quadra é mais longa, os veículos desenvolvem maiores velocidades
    ✓ CONFIRMADA: a cada 62 metros de quadra, a velocidade média aumenta 1 km/h.
  • Quando a quadra é mais comprida, a severidade dos acidentes é maior
    ✓ CONFIRMADA: há influência sobre atropelamentos de pedestres (possivelmente por travessias fora da faixa) e maior velocidade dos veículos (menos obstáculos).
  • Quando ocorre um acidente, a velocidade média da via se reduz nos dois sentidos, por um período de tempo considerável
    ✓ CONFIRMADA: o efeito negativo na velocidade é significativo por até 3 horas após a ocorrência, chegando a 32% de redução de velocidade na primeira hora.
  • Quando as velocidades dos dois sentidos da via são muito diferentes, os acidentes são mais frequentes e mais severos, especialmente com motociclistas
    ✘ NÃO CONFIRMADA: não foi possível identificar relação estatisticamente relevante.
  • Acidentes envolvendo motoristas do sexo masculino tendem a ser mais severos
    ✓ CONFIRMADA: a severidade dos acidentes é 69% maior.

Segundo Meyer, sem os dados de velocidade disponibilizados pelo Uber Movement não seria possível investigar as hipóteses, já que faltam fontes de dados sobre a velocidade da via quando cada acidente aconteceu e se havia congestionamento.

Compreender como são os deslocamentos nas cidades é fundamental para direcionar intervenções e orientar políticas públicas que protejam a vida das pessoas e sejam baseadas em evidências, mas, para tanto, é preciso dados e análises confiáveis. Foi este o desafio do estudo, utilizando dados inéditos compartilhados pela Uber“, afirma.

Por Redação Na Boléia

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