2-05092017As ocorrências de roubo de cargas no Rio de Janeiro aumentaram 25% no primeiro semestre de 2017, afetando custos de logística, vendas da indústria e do comércio, além de provocar a falência de 40 transportadoras nos últimos meses, e já há risco de desabastecimento.

Com tantos assaltos, algumas seguradoras estão cancelando os contratos. Segundo o Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (SINDICARGA), cerca de 40 empresas de médio e pequeno portes que atuavam no Rio de Janeiro faliram nos últimos meses. Essa estatística está diretamente ligada a outra: de acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado, o número de roubos de cargas no Rio de Janeiro avançou quase 25% no primeiro semestre na comparação com o mesmo período de 2016.

Hoje, o estado tem mais de um caminhão roubado por hora. Em maio deste ano, quando as ocorrências atingiram seu ápice, foram, em média, 40 caminhões por dia, segundo dados exclusivos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN). “Esses números gritam, é um absurdo”, diz Sérgio Duarte, vice-presidente da entidade. “Existe um mercado por trás disso.”

O roubo de cargas afeta os custos de logística e as vendas da indústria e do comércio. Em 12 meses, os gastos com transporte de mercadorias para o estado subiram entre 30% e 35%, nos cálculos do SINDICARGA. Fabricantes de eletroeletrônicos, alimentos e redes varejistas, que preferiram conceder entrevistas sem se identificar, afirmam que estão com dificuldade em contratar frete para abastecer o Rio de Janeiro. “Tem empresa que já não quer mais mandar carga para o Rio”, diz Duarte, da FIRJAN. “Estamos correndo um sério risco de desabastecimento, especialmente dos produtos mais roubados.”

Na lista dos preferidos dos bandidos estão frango, carne bovina e queijos – itens fáceis de revender. “Está uma loucura conseguir frango, por exemplo. Os supermercados compram, mas não recebem”, diz o presidente da Associação de Supermercadistas do Rio de Janeiro (ASSERJ), Fábio Queiróz. Um levantamento da entidade mostra que algumas mercadorias chegam ao estado com preços até 20% mais altos do que no restante do país como consequência do repasse dos custos de transporte.

A BRF, gigante do setor de frangos e comida congelada, contratou uma empresa de gerenciamento de risco para revisar as rotas e os horários de circulação de seus caminhões no Rio de Janeiro. Em áreas de risco, eles trafegam em comboios de quatro a cinco veículos e usam escolta.

Nem caminhões carregados de ovos escapam das quadrilhas especializadas. “Essas mercadorias voltam para as ruas em Kombis, que vendem a cartela com cinco dúzias a R$ 10. A cada caminhão roubado, são mil caixas de ovos que entram nas ruas por preços com os quais não podemos concorrer”, diz o atacadista José Andrade, proprietário de uma distribuidora de ovos do Rio de Janeiro.
Os fornecedores do atacadista, a maioria deles produtores de São Paulo, ameaçam suspender as entregas a cada nova ocorrência. “Os bandidos levam para a comunidade, distribuem a carga entre oito ou dez Kombis e posicionam uma em cada saída do morro”, conta. “O morador nem desce mais para o asfalto para comprar.”

Por: Redação Na Boléia

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