Revista: Transporte de cargas no Brasil – Desafios e oportunidades
A Editora Na Boléia entrevistou o Prof. José Manoel Ferreira Gonçalves, coordenador do curso de MBA em Infraestrutura de Transportes da UNIP, que faz uma análise do setor de transporte de cargas no Brasil e fornece informações detalhadas sobre o programa, que tem como proposta ajudar o participante a ampliar a sua visão e colaborar na construção de alternativas para o País
O setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil foi um dos mais afetados pela desaceleração da economia, que colocou o País em uma das maiores crises de sua história. Embora o mercado já tenha dado algum sinal de melhora, o caminho ainda é longo para que as empresas do segmento retomem normalmente suas atividades e voltem a crescer.
Na verdade, as dificuldades do setor são queixas recorrentes. Há anos, esse mercado tem sofrido com a falta de infraestrutura viária e de segurança, além de inúmeros outros problemas, que possuem soluções, mas que, muitas vezes, devido a diversos fatores, inclusive no âmbito político, não são levadas a termo.
Nesse ambiente, é importante que os empresários e todos os players desse segmento estejam sempre atualizados, a fim de atuar com eficiência para que as mudanças ocorram de uma forma mais rápida e efetiva.
Pensando nisso, a Universidade Paulista (UNIP) lançou o curso de MBA Infraestrutura de Transportes, que tem como proposta ajudar o participante a ampliar a sua visão e colaborar na construção de alternativas para o País.
A Editora Na Boléia entrevistou o Prof. José Manoel Ferreira Gonçalves, coordenador do MBA em Infraestrutura de Transportes da UNIP, que faz uma análise do setor de transporte de cargas no Brasil e fornece informações detalhadas sobre o curso. Confira a entrevista exclusiva.
Na Boléia – Qual o cenário do transporte de cargas no Brasil hoje?
Prof. José Manoel – O cenário atual é de crise, infelizmente. Contudo, se a demanda de hoje é mal atendida por modais inapropriados, a projeção para os próximos 30 ou 40 anos pode ser muito promissora, se os projetos ferroviários, que estão em fase adiantada – embora com calendário atrasado –, forem concluídos e as obras projetadas iniciadas. Em um País continental, como o nosso, as ferrovias precisam ser vistas como estratégicas, inclusive, para a ocupação racional do nosso território. Mas hoje, a estrutura do transporte brasileiro está concentrada em rodovias, com vários prejuízos.
Quais as principais dificuldades e os maiores desafios?
Uma das maiores dificuldades é enfrentar a questão cultural, que faz as pes-
soas pensarem quase que unicamente em soluções de transporte de cargas e de passageiros sobre pneus: isso está no imaginário da nação e de seus dirigentes.
O desafio é mudar esse modelo, que, por vezes, oferece soluções ineficientes e disfuncionais e leva, por exemplo, a assistirmos ao fechamento de concessionárias de ramais ferroviários considerados antieconômicos, porque, entre outras razões, não aprendemos a aproveitar as chamadas externalidades para a sociedade, que são os ganhos ambientais, de saúde, de fluidez do trânsito, entre outros pontos.
Outro desafio é lidar com o patrimônio das rodovias e ferrovias que estão em desuso. Trilhos e materiais rodantes expostos à chuva e ao sol, não recebem manutenção. Para isso, a solução seria um inventário nacional de equipamentos e dos espaços existentes para ampliações, racionalizações etc., executado de forma transparente, capaz de prever a reutilização de toda esta estrutura pública.
O que falta para o País avançar e equacionar os principais problemas de logística no transporte de cargas?
Falta visão de Estado, porque as obras públicas de infraestrutura não podem ser pensadas segundo o prazo para as eleições seguintes, mas visando beneficiar as gerações futuras. Faltam bons projetos, estruturados de forma a garantir a integração entre os diversos modais de transportes. Falta ao País um novo marco regulatório, que discuta o chamado direito de passagem (em que os trilhos administrados pela iniciativa privada possam ser usados por outras operadoras, além das próprias concessionárias responsáveis).
Falta fortalecer a agência reguladora para que fiscalize efetivamente os serviços prestados, exigindo qualidade. Para isso, precisamos estabelecer critérios técnicos definidores do que as nossas ferrovias devem oferecer. Falta que as autuações e multas sejam realmente cobradas, porque são inúmeros os recursos jurídicos que anulam as punições em noventa por cento dos casos. Falta desenvolver um novo modelo de negócios, oferecendo segurança jurídica aos potenciais investidores, mas será preciso ter a coragem e a competência de estabelecer limites e orientações gerais para o bom funcionamento do sistema, diferentemente do que se vê hoje.
A falta de infraestrutura é um dos gargalos da logística no Brasil. Como resolver essa questão? Quais as possíveis soluções para esse problema?
Para resolver essa questão e colocarmos o País estrategicamente entre as grandes economias do mundo, devemos procurar criar um banco de bons projetos para o Brasil. É preciso aproveitar o conhecimento produzido na academia brasileira em diversas áreas de pesquisa e inovação. Dar o merecido destaque, voz e vez ao talento dos nossos profissionais, que são reconhecidamente supercriativos, enfrentam os desafios e respondem bem, quando chamados a dar sua contribuição com soluções.
Outra providência inadiável é a de conectar entre si as ferrovias, bem como com as rodovias e hidrovias e portos, para que assim operem em sinergia. Todo esse sistema precisa ainda estar em conexão com a cabotagem, integrando também pelo litoral brasileiro.
Quais os impactos desse cenário para as empresas brasileiras? Quais tipos de prejuízos a ineficiência do sistema logístico de transporte de cargas traz para as empresas brasileiras?
São entraves que impedem um crescimento sustentável das corporações e, em decorrência disto, freia a geração de empregos de forma robusta e independente. Se compararmos o quanto outros países investem em infraestrutura, em relação ao Brasil, talvez encontraremos a resposta aos nossos problemas. Recentemente, a rodovia 163 trouxe prejuízos inestimáveis aos produtores e aos transportadores que passaram por ela. Caminhões atolados em função das chuvas, parados no meio do lamaçal e a soja do Mato Grosso, já comercializada, impedida de atingir os portos do Pará e os mercados europeus e norte-americano. Um grande prejuízo e vergonha.
Com frequência, assistimos ainda às extensas filas de caminhões esperando para acessar os portos de Santos e Paranaguá, o que representa prejuízo para as empresas e é repassado para a sociedade. Tal desequilíbrio no sistema logístico reflete, por exemplo, no custo do transporte rodoviário da soja oriunda do Mato Grosso para o porto de Santos, que é maior que o custo do transporte de navio de Santos até a China. Dessa forma, não competimos em igualdade de condições com outros produtores mundiais. As empresas brasileiras têm muito mais dificuldade para crescer de forma estruturada e planejada, e isso prejudica diretamente nossa maior participação no mercado internacional.
Como a tecnologia pode ajudar a mudar esse cenário? O que existe de novo/inovação nessa área?
No caso do Brasil, é mais importante atender bem com o que já tem de tecnologia nos diversos modais, do que se envolver com o que há de mais moderno neste setor. Os desafios tecnológicos são cada vez mais complexos e precisamos de respostas concretas, consistentes e adequadas às especificidades das diversas regiões do nosso País. Por exemplo, nas áreas onde há muita oferta de energia eólica ou solar, a prioridade deve ser no investimento da produção destes tipos de energia e em sistemas logísticos que os favoreça.
No caso dos Transportes, sistemas de controle e sinalização mais modernos e eficientes para otimizar a utilização de equipamentos e melhorar os serviços e a segurança sobre trilhos também são ferramentas tecnológicas que podem ajudar a melhorar o setor. Há sistemas muito bons no mercado mundial, o Brasil pode contratá-los e, se possível, toda a estrutura que os faz funcionar em convergência com o sistema que já existe em operação no Brasil.
Como o curso de MBA Infraestrutura de Transportes pode ajudar nesse sentido? Qual a proposta do programa?
Para que todos nós profissionais, empresas, professores, órgãos de governo, agentes de controle e de fiscalização, possamos exercer nossas respectivas funções de forma eficiente, todos precisamos nos manter atualizados, e com o que existir de melhor e mais moderno neste mundo em transformação constante. Para isso, são fundamentais o mundo acadêmico e os centros avançados de pesquisa.
A proposta do MBA da UNIP é ajudar o aluno a ampliar a sua visão, que, em geral, é bastante restrita, especializada, pontual, mas repetitiva. Com um olhar mais panorâmico e crítico, é possível colaborar na construção de alternativas para o país. Soluções criativas, eficientes e de menores custos, que possam responder às demandas efetivas dos problemas que se apresentam no dia a dia das cidades.
O curso – do início ao fim – visa qualificar os profissionais das diversas áreas afins, nos diversos modais, para promover o desenvolvimento de forma organizada, melhorar a qualidade de vida, preservando o meio ambiente e economizar energia e mão de obra.
O que motivou a criação do curso?
A intenção de integrar profissionais da Engenharia com os da Economia, Administração, Direito, entre outras áreas. A era da especialização impõe paradoxalmente a necessidade de interdisciplinaridade para alcance mais abrangente dos problemas em tela. Nosso objetivo é oferecer uma visão panorâmica, atualmente rara apesar de tão necessária, reunindo empresários, trabalhadores, profissionais liberais e executivos ao mundo acadêmico. Pretendemos ainda dar respostas mais concretas às necessidades cada vez mais intensas por melhores salários e perspectivas de futuro quanto à empregabilidade.
Qual a duração do curso? E quem pode participar?
São 360 horas. Um ano, em quatro bimestres. Podem participar profissionais de diversas áreas, tais como, engenheiros, economistas, administradores, advogados e profissionais afins. Ou seja, interessados em pensar o Brasil e desenvolver um projeto nacional para os próximos 50 anos.
Qual o valor do investimento?
A partir de 18 vezes de R$ 305,40. O curso está disponível atualmente no módulo presencial, na UNIP campus Paraíso, na capital paulista, e no módulo semipresencial nos campi do interior de São Paulo e de fora do Estado, em Goiás, Manaus e Brasília.
Quais as expectativas em relação ao curso?
São bastante positivas. Temos o apoio estratégico da UNIP, que é uma universidade privada bem conceituada no País. Com esse apoio convidamos professores altamente preparados e dispomos dos mais favoráveis recursos didáticos nas aulas presenciais e semipresenciais, tais como apostilas cuidadosamente elaboradas, focando o problema e evitando digressões, além de um ambiente acadêmico saudável para troca de informações e debate entre alunos, professores e a coordenação do curso.
Quais as oportunidades profissionais para quem deseja atuar, hoje, no Brasil nessa área de transporte de cargas? Apesar das dificuldades do setor, como é o mercado de trabalho? O que piorou e o que melhorou?
A demanda por esse profissional só faz aumentar. O País precisa crescer e, para isso, necessita da implantação de sistemas de infraestrutura integrados, bem planejados e estratégicos. As empresas demandam profissionais com a visão ampla que propagamos, única a permitir uma organização racional e planejada na implantação de sistemas logísticos eficientes.
O que tem melhorado é a percepção e consciência do problema, da urgência das soluções e da oportunidade de colocar em prática as reflexões promovidas entre alunos, professores e profissionais convidados. Pioraram diversos indicadores e resultados, empurrando para as soluções que precisam ser buscadas.
Por: Redação Na Boléia