3-12042018-minCom o objetivo de reduzir o número de mortes no trânsito, a prefeitura municipal de São Paulo vai implementar um plano de segurança viária de longo prazo. É o chamado Visão Zero, que se baseia na premissa de que nenhuma morte no trânsito é aceitável, tendo a vida humana como a principal prioridade.

O Visão Zero engloba várias das medidas que São Paulo já vem adotando para reduzir o número de mortes e de lesões graves por acidentes de trânsito, como os programas Pedestre Seguro, M’Boi Segura, Ruas Completas, controle da velocidade dos ônibus em 50 km por hora, Sexta sem Carro e Áreas Calmas. O programa enfatiza a ampliação desse tipo de medida para todas as vias da cidade e prevê o envolvimento de toda a sociedade na proteção dos mais vulneráveis.

Na prática, o plano implanta a abordagem chamada de Sistemas Seguros. Essa política parte do princípio de que as pessoas cometem erros, e que esses erros não podem ser fatais. De acordo com esse conceito, na medida em que as pessoas não são infalíveis, os projetistas da infraestrutura viária devem criar sistemas de transporte nos quais as consequências do erro humano sejam minimizadas. Os acidentes não são completamente eliminados, mas deixam de resultar em mortes ou pessoas gravemente feridas.

Para atingir esse objetivo, é preciso reorientar a forma como a segurança no trânsito é vista e gerenciada, compartilhando a responsabilidade entre as autoridades que desenham e operam os sistemas de transporte, a sociedade e os usuários, que devem obedecer às leis e normas de trânsito.

Além disso, a abordagem de Sistemas Seguros envolve estratégias integradas que promovem a coordenação de várias instituições ligadas ao planejamento urbano e gestão da mobilidade, incluindo o trabalho de engenheiros de tráfego, profissionais para fiscalização, designers de veículos, especialistas da saúde, educadores, jornalistas e cientistas sociais. A sociedade como um todo também participa do processo.

“Todos nós – o poder público, sociedade civil organizada, empresas, fabricantes de automóveis, seguros, sindicato de bares e restaurantes -, todos nós temos uma participação a dar na redução de acidentes”, afirma o secretário Sérgio Avelleda.

Para ilustrar o nível de eficiência a que se pretende chegar, Avelleda compara com a postura adotada pela aviação comercial para reduzir as mortes. Todos os acidentes aéreos, segundo o secretário, são estudados exaustivamente para evitar novas ocorrências.

“Na construção do plano de segurança viária, que é um dos pilares fundamentais da Visão Zero, não pode estar envolvida só a engenharia de tráfego da CET. Nós precisamos ganhar toda a sociedade com o plano de segurança viária, começando por toda a Prefeitura, com todas as suas secretarias envolvidas, prefeituras regionais. Todo mundo precisa estar impregnado desta visão. A construção desse plano não é de um dia para a noite. Vai levar um tempo para que a gente tenha de fato um plano efetivo e eficaz”, enfatiza.

Como surgiu

O Visão Zero, criado na Suécia em 1997, é uma forma específica de entender e desenvolver um Sistema Seguro de mobilidade e busca reduzir as mortes e lesões graves no trânsito a zero até 2020. Uma das principais ações consistiu em desenhar ou reconfigurar vias priorizando os deslocamentos e a segurança de pedestres e ciclistas em vez de dedicar todos os recursos aos automóveis.

Na Suécia, a estratégia funcionou e a taxa de mortalidade no trânsito do país caiu 55% entre 1994 e 2015. Hoje, o país tem uma das menores taxas de morte no trânsito do mundo: 2,7 por 100 mil habitantes. “As cidades que abraçam o Visão Zero são mais sustentáveis, mais humanas e agradáveis para se viver, são cidades mais prósperas e que protegem especialmente os pedestres e ciclistas, que estão entre os que mais morrem e ficam gravemente feridos em acidentes”, afirma Claudia Adriazola, diretora global de Segurança Viária do WRI, que esteve no Brasil e auxiliou a Prefeitura na elaboração do plano de segurança viária com base nas melhores práticas internacionais.

A visita, que foi acompanhada pela especialista em segurança viária Anne Eriksson, fez parte dos esforços da Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito (BIGRS), que tem como objetivo reduzir as mortes e lesões causadas por acidentes de trânsito.

Diversos outros países, como Noruega e Holanda, adotaram abordagens semelhantes e apresentam as taxas mais baixas de mortalidade no trânsito e as maiores reduções no número de mortes ao longo dos últimos 20 anos. Com os bons resultados obtidos em países europeus, abordagens como Sistemas Seguros e Visão Zero se tornam cada vez mais populares. Em Nova York, houve redução de 28% do número de mortes desde 2014. Na Cidade do México, a redução foi de 20% desde 2015, quando o programa foi iniciado.

Bogotá, na Colômbia, também reduziu o número de mortes no trânsito, em 11% desde 2016, depois de adotar uma série de medidas de segurança, como redesenho de ruas, maior controle policial contra embriaguez e estratégias específicas de segurança para motociclistas.

Por: Redação Na Boléia

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