2-09022017Com características únicas, o transporte de medicamentos exige das transportadoras investimentos constantes no aprimoramento de suas operações, para atender uma regulamentação mais rígida e complexa. Um estudo na NTC & Logística mostrou as dificuldades para o avanço dessa atividade no País. Confira

O Brasil é uma nação que anda sobre rodas. Sabe-se que mais de 60% das mercadorias e materiais que circulam pelo País são transportados pelo modal rodoviário. Trata-se de uma atividade de alto custo e com forte impacto no PIB brasileiro.

Por outro lado, são muitos os desafios para melhorar o transporte e a logística no Brasil. Má conservação das estradas, falta de infraestrutura de um modo geral, legislação deficiente e escassez de mão de obra especializada são alguns dos problemas do setor que interferem em toda a cadeia.

Nesse ambiente, as empresas buscam alternativas para manter suas receitas e competitividade, especialmente em tempos difíceis. Com características únicas, o transporte de medicamentos não é diferente. As transportadoras precisam constantemente investir no aprimoramento de suas operações para atender uma regulamentação mais rígida e complexa.

Na verdade, o setor farmacêutico brasileiro é um dos mais importantes da economia e reconhecido mundialmente. Em 2015, conforme estimativa da Fundação Getulio Vargas, a indústria de fármacos gastou R$ 765 milhões com o transporte de medicamentos, tendo gerado mais de 18 mil empregos diretos e indiretos.

Os R$ 765 milhões gastos pela indústria farmacêutica em 2015 representam a receita do setor de transporte de produtos farmacêuticos que, além de impactar diretamente o próprio setor, impactam em diferentes medidas em outros setores da economia de maneira indireta.

Apesar da importância do transporte e da logística no mercado farmacêutico brasileiro, um estudo encomendado pela NTC & Logística mostrou que uma das principais dificuldades para o avanço do transporte de medicamentos no País é a deficiência da infraestrutura. Ou seja, faltam veículos adequados, mão de obra especializada, padronização na regulamentação sanitária, fiscalização etc.

Tudo isso torna o transporte de medicamentos muito mais caro.
O fato é que a fabricação dos medicamentos e produtos voltados à saúde seguem normas internacionais. Mas isso de nada adianta se a operação de transporte não respeitar especificações que garantam a qualidade dos itens na ponta.

Apesar da evolução nessa área, ainda hoje as indústrias farmacêuticas enfrentam situações em que mercadorias permanecem dentro do caminhão por vários dias, expostas a altas temperaturas, o que provoca a redução ou a perda da eficácia do produto.

Medicamentos necessitam de condições específicas de conservação. Conforme reforçou a pesquisa da NTC & Logística, tais condições são determinadas pelo fabricante com base em Estudos de Estabilidade, definidos pela Anvisa. Um medicamento mal conservado pode acarretar riscos à saúde do paciente.

A estabilidade dos fármacos depende do atendimento às especificações em cada uma das etapas da cadeia de transporte, armazenagem e distribuição dos produtos nos pontos de venda.

Faltam profissionais

A falta de mão de obra qualificada para atuar nesse segmento foi outro problema apontado pelas transportadoras entrevistadas no levantamento. Parte significativa dos empresários de transporte rodoviário (86% do total entrevistado pela CNT) alegou ter dificuldades na contratação de mão de obra, principalmente, devido à escassez de profissionais qualificados, aos elevados encargos sociais e à falta de cursos e treinamentos específicos. Conforme a pesquisa, existem estimativas de que, na média para 2014, 12,1%35 da frota das transportadoras associadas à NTC & Logística estava parada por falta de motoristas. Outra estimativa citada na pesquisa mostra que ainda existe uma escassez de motoristas que varia entre 82 mil e 106 mil no setor.

A falta de padronização nas regulamentações sanitária das cidades e estados também é outra dificuldade elencada pelos transportadores entrevistados. Segundo Thiago Amaral, vice-presidente Comercial da RV Ímola, empresa que há 12 anos atua exclusivamente no transporte de produtos farmacêuticos e voltados à área da saúde, além da questão tributária, que é extremamente confusa, a questão regulatória impõe grandes desafios para as empresas que atuam nessa área. “Temos no País a Anvisa e cada estado e cidade têm suas normas e regulações sanitárias, o que faz com que as exigências sejam diferentes e, muitas vezes, conflitantes. Isso exige uma estrutura jurídica eficiente para que possamos entender a legislação de cada localidade e atuar dentro da normas estabelecidas”, explicou Thiago.

Segundo ele, este é um segmento que tem passado por grandes mudanças nos últimos anos, sendo representado por empresas que vem buscando aprimorar suas operações. “Temos investido em várias frentes para tornar nossa operação mais eficiente. O ano de 2016 foi bastante difícil para o País, mas tivemos um saldo positivo. Como todas as empresas, revimos processos, otimizamos custos e adotamos novos conceitos de gestão. Isso nos deixou mais preparados e otimistas em relação a 2017. A disposição do Governo de controlar as contas públicas e realizar as reformas necessárias para fortalecer a economia fizeram com que o empresariado voltasse a ter mais confiança em dias melhores. Estamos compartilhando dessa visão e esperamos um ano mais produtivo. Entretanto, o transporte de medicamentos exige que as empresas invistam em sua frota e em veículos climatizados, bem como em pessoas que saibam trabalhar e respeitar todas as especificações necessárias para a preservação do produto durante a viagem. Quem não estiver disposto a fazer esses investimentos não conseguirá atuar nesse mercado”, analisa o executivo.

Ajudando a salvar vidas

Na verdade, muitas dificuldades apresentadas pelos entrevistados no levantamento estão condicionadas a fatores diretamente ligados ao poder público, sobretudo, no que se refere à regulação, legislação sanitária e de transportes, tributação, infraestrutura e fiscalização. Esses elementos influenciam a operação logística de todos os elos da cadeia, em graus distintos, direta ou indiretamente. Além disso, também impactam o nível do serviço prestado, a estrutura de custos das empresas e a estrutura competitiva da cadeia

E cada vez mais, os laboratórios farmacêuticos buscam trabalhar com transportadoras que estejam mais tecnicamente preparadas. Segundo mostrou o estudo, os critérios gerais para a seleção de transportadores incluem: confiabilidade; preço; flexibilidade operacional e comercial; qualidade do pessoal operacional e informações de desempenho.

No setor de medicamentos e insumos farmacêuticos, especificamente, são três os critérios fundamentais: qualificação regulatória, qualidade do serviço e preço.

“Muitas empresas que atuavam no setor de transporte de medicamentos há dez anos não estão mais no mercado. E cada vez mais seremos pressionados e teremos de nos preparar para atender às normas sanitárias e legais e às exigências dos clientes. As empresas transportadoras de medicamentos têm, na verdade, uma grande responsabilidade social, ou seja, realizamos uma atividade de grande valor para a sociedade: transportamos produtos que salvam vidas. Por isso, é preciso investimentos constantes em pessoal, treinamento de funcionários e tecnologias de forma a contribuirmos para garantir sempre a segurança dos medicamentos na ponta para o consumidor final”, finaliza Thiago.

Por: Redação Na Boléia

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