No final de setembro participei do Fórum Digitalização: Soluções para um Brasil mais competitivo, promovido pelo jornal Folha de São Paulo. Abordando temas como produtividade na indústria, inovação, infraestrutura e mobilidade de pessoas e cargas, alguns aspectos levantados pelos participantes apontam estreita relação com o mundo dos transportes. Em outros pontos, mesmo que não diretamente relacionados, é possível extrair alguma “pérolas” e aproveitar as lições.

Uma observação interessante foi feita pelo diretor de Tecnologia da Informação (TI) da AMBEV, Sérgio Vezza:

– TI e produção não conversam.

É comum estarmos numa transportadora e verificar que o computador da oficina não tem acesso à Internet, ou que para instalar um programa é preciso chamar alguém da TI que tenha senha de administrador e, pior ainda, raramente está disponível no momento em que se precisa dele (isso quando nem na empresa está). Por que tantas travas e restrições? Porque é mais fácil criar dificuldades do que ensinar e educar.

O funcionário da oficina muitas vezes precisa procurar na Internet informações para solucionar um determinado problema, para o qual não tem outras fontes de informação. Inúmeras vezes visitei frotas que, mesmo dispondo de um setor de manutenção, os manuais dos veículos ficavam trancados num arquivo em um setor administrativo. Não entregavam um único exemplar a quem tem por função fazer a manutenção e, para tanto, precisa de informações contidas nos manuais.

No mesmo fórum, outras duas observações interessantes:

– Inovação existe desde o início da humanidade.

– Tecnologia não é só TI.

É verdade. Desde que o homem desbastou a pedra bruta para transformá-la em ponta de flecha ou de lança, para caçar ou para defender a si e à sua tribo, inovações surgem a todo o momento e cada vez com maior velocidade e menor tempo entre uma e outra.

E quando se fala em tecnologia, muitas vezes uma transportadora está toda informatizada, com todo tipo de controles e recursos na administração enquanto lá em baixo, no pátio e na oficina, ainda estão próximos da idade da pedra, não dispõem de recursos básicos para realizar suas tarefas. Ainda removem as rodas utilizando uma prancha lambuzada de graxa, por exemplo.

Trocar um deficiente calibrador manual de vareta por um digital é um avanço tecnológico, da mesma forma que trocar o velho compressor a pistão por outro, a parafuso, por exemplo.

Nos veículos a cada dia existe mais tecnologia embarcada e isso requer cada vez mais especialização não apenas da equipe de manutenção, mas também – e diria principalmente – do motorista. Afinal, é nas mãos do motorista que o veículo vai estar no dia a dia.

Muitas empresas tem a coragem de investir centenas de milhares de reais na compra de um caminhão novo, mas raras são as que investem 0,5% do valor para treinar o motorista ou seus mecânicos. Depois, querem tirar leite de pedra, como se diz.

Por: Pércio Schneider

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