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O caminhão no futuro, sem dúvida, irá tornar realidade recursos que hoje ainda são protótipos, mas será que iremos encontrar quem o conduza correta e habilmente, ou será sub ou mal utilizado?

Na edição 112, da Estrada Na Boléia, em outubro de 2013, tratei da falta de motoristas que, na ocasião, resultava em estimadas 100 mil vagas abertas e caminhões parados em 56% das empresas por todo o Brasil, por absoluta falta de pessoal habilitado e capacitado. Era uma época em que a atividade econômica ainda estava em alta, com agricultura, indústria, comércio e serviços operando com elevados níveis de atividade.

Na edição seguinte, 113, de novembro de 2013, dando continuidade ao tema, tratei da capacitação dos motoristas face às mudanças que teriam início, a partir de janeiro de 2014, com a introdução, obrigatória por força da legislação, de freios dotados de ABS em todos os veículos vendidos no País, inclusive, ônibus, caminhões e semirreboques.

Hoje, passados três anos, vivemos uma forte crise na economia. O noticiário fala diariamente em índices de desemprego e queda de produtividade, mas ninguém e nenhum canal de informações divulgam quantos caminhões estão parados, por falta do que transportar. A produção da indústria de veículos comerciais recuou aos níveis do século passado.

De acordo com os dados da Anfavea, no acumulado de janeiro a agosto de 2016, a produção foi de 41.601 caminhões, quantidade que se situa entre os 36.755 de 1999 e os 46.980 de 2000, no mesmo período. Nos anos 1960, da série histórica da Anfavea, desde os primórdios da indústria automotiva no País em 1957, a produção acumulada deste ano está na 31ª posição. O ápice ocorreu em 2011, com 147.282 caminhões fabricados de janeiro a agosto, e 223.602 no acumulado do ano.

Paralelamente, de 22 a 29 de setembro, aconteceu o 66º IAA Commercial Vehicles, o maior e mais importante salão de veículos comerciais, realizado a cada dois anos em Hannover, na Alemanha, com 270 mil metros quadrados e abrigando 27 pavilhões, ocupados por 2.013 expositores de 52 países.

Comparada ao IAA, a nossa Fenatran é bastante limitada. Só para lembrar, na última edição sequer foi ocupado todo o espaço do Anhembi, que possui 77,7 mil metros quadrados.

O que liga o que descrevo com o título desse texto são as novidades mostradas no IAA, em que a conectividade, digitalização e automação de veículos em geral e dos comerciais em particular são uma realidade cada vez mais próxima, tornando os veículos mais autônomos e menos dependentes dos motoristas. E isso leva à necessidade de capacitar os motoristas para outro cenário.

Caso não sejam capacitados para programar, operar e obter desses recursos o melhor resultado possível, o transportador corre sério risco de investir centenas de milhares de reais na compra de um veículo ultramoderno que, no fim, será usado como um velho 1313.

Obviamente, toda a pesquisa e desenvolvimento em curso têm como principais objetivos proporcionar a maior segurança possível e tornar os veículos quase que à prova de erros, causados por maus motoristas. Contudo, se por um lado, a falta de habilidade do condutor terá uma influência cada vez menor, graças aos sistemas autônomos embarcados, por outro lado, exigirá do mesmo a capacidade de interagir com tais interfaces.

Isso me lembra de um comentário, feito pelo responsável de uma empresa que utilizava, além de caminhões, equipamentos de construção. A empresa havia adquirido três novas moto-niveladoras que estavam paradas porque, simplesmente, não encontravam alguém que pudesse operar os equipamentos. Quando perguntado sobre o motivo, a explicação mostrou o quanto nossa mão de obra é despreparada. A diferença entre as novas máquinas e as que se encontravam em uso é que, nas novas, no lugar daquele volante enorme, quase uma roda de carroça, o que havia eram comandos acionados por joystick, aos quais os operários não se habituavam de forma alguma.

Assim, e voltando ao título, como será o caminhão no futuro? Além de tornar realidade recursos que ainda são protótipos, será que irá encontrar quem o conduza correta e habilmente, ou será sub ou mal utilizado?

Por: Pércio Schneider

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