2-1-26062018-minO roubo e o furto de caminhões sempre motivaram o crime organizado. Para se ter ideia, um veículo de porte médio pode custar em torno de R$ 130 mil. Um veículo maior, por sua vez, ultrapassa a casa dos R$ 650 mil, cifras que costumavam chamar a atenção dos empresários do crime e motivá-los a cometer este tipo de delito. Porém, o interesse do crime organizado por bens e valores transportados por caminhões, carretas, motos e utilitários, tem aumentado substancialmente.

Os criminosos identificaram nas cargas uma oportunidade de obtenção de retorno ainda mais substancial. Um carregamento de produtos eletrônicos pode superar os R$ 2 milhões. Cargas contendo produtos de higiene ou perecíveis são escoadas em mercados clandestinos, verdadeiras feiras livres oriundas de atividades ilícitas. Hoje em dia, são muitas as possibilidades e receptadores de sobra, ávidos para adquirir mercadorias ao menor preço possível, independentemente da procedência.

Muitos centros de pesquisa e empresas têm estudado esse novo funding (“financiamento”) do crime organizado para identificar comportamentos e traçar as melhores estratégias a fim de frear a atuação criminosa.

Muitos podem ser os fatores que levam indivíduos a ingressar em operações relacionadas ao Roubo de Cargas: o retorno financeiro proporcionado e a relação oferta e demanda em um País cuja aceitação por produtos sem procedência é relativamente alta. É um poderoso mercado de itens roubados, com inúmeras ramificações, passando por receptadores e culminando no cliente final.
O tema não se resume a isso e é bastante complexo à medida que estudos são realizados. Ainda assim, alguns pontos são muito claros, como, por exemplo, a necessidade iminente de capacitação e qualificação técnica para a execução de roubos desta natureza. Em diversos casos, há cargas que demandam alta perícia por parte das organizações criminosas, que passam a dedicar seus esforços em especialização. Os criminosos estudam e se aprimoram cada vez mais em estratégias, equipamentos e pessoal qualificado, a fim de ter êxito em suas arriscadas empreitadas neste segmento.
Acredita-se que há muitas situações em que informações privilegiadas sobre carregamentos, valores, trajetos, recursos de segurança, entre outros dados, transitam de empresas para organizações criminosas, facilitando a atuação dos bandidos.

Essas verdadeiras fraudes precisam ser combatidas com muito rigor pelas empresas. Enquanto vazamentos desta magnitude acontecerem, menores são as chances de qualquer operação logística ser bem-sucedida nesta verdadeira batalha entre empresas e criminosos, cada vez mais comum no cenário brasileiro do transporte rodoviário de cargas.

E onde entra a Ética nesse contexto? Não desrespeitar o conjunto de normas, ideologias e valores que torna possível viver em uma sociedade de forma razoavelmente equilibrada; não fraudar e chegar na hora marcada aos compromissos agendados, apenas como simples exemplos, situam-se no campo da ética. Comportamentos oportunistas levam à construção da desconfiança, pois na memória de longa duração da sociedade restará a lembrança de que, diante de uma vulnerabilidade qualquer, seremos abusados. Então, o pensamento que fica é: precisamos dar um “jeito” para sobreviver, às vezes burlando as regras cotidianas. A prática repetida se converte em hábito; o hábito em cultura.

Em um contexto no qual todo mundo tenta dar um “jeitinho de levar vantagem”, todos perdem. O comportamento ético inspira confiança nas pessoas, nas instituições e nas organizações, facilita as relações, estimula os negócios e torna os mercados mais eficientes.

por Frederico Augusto Lanzoni, da área de Inteligência de Mercado do Grupo Tracker.
Jésus de Lisboa Gomes, Professor e Pesquisador da FECAP.

Redação Na Boléia

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